terça-feira, 29 de setembro de 2009

Outras Interinvenções


Neste final de semana, devorei um livro de Mia Couto, chamado "E se Obama fosse africano? e Outras Interinvenções", lançado em janeiro de 2009, pela Editora Ndjira.

Antes de contar mais, gostaria ainda de dizer que conheço Mia a pouco tempo e, da primeira vez que ouvi falar em "Mia Couto", imaginei uma mulher negra, moçambicana, que enfrentou cobras e lagartos para estudar e se destacar no campo da literatura.

Quanta decepção quando descobri que "Minha Mia", era um homem-moçambicano-branco! Tudo bem que a parte das cobras e lagartos estava certa: ele é biólogo! Seja como for, a decepção durou pouco, pois logo me enviaram um texto que saiu no Savana, jornal aqui de Moçambique. O título era: "E se Obama fosse africano?"

O livro de meu final de semana traz esse texto e muitos outros. Lendo, pude conhecer um pouco mais de Mia e adimirá-lo para além do que imaginei. Isso porque não é um livro de ficção. Trata-se de uma coletânea de suas falas em congressos, feiras, encontros, inalgurações de seguradoras (!!!) e tudo o mais, feitas no Brasil, Moçambique, Angola e Portugal.

Divido aqui o texto sobre o resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos da América, no ano de 2008. Sim, é um texto antigo para a Era da Internet... Posto isso de lado, o que é um ano na vastidão do tempo?

E se Obama fosse africano?
Por Mia Couto

"Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: " E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?

1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).

5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia."

.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Cumpro a Sina.


"Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
– dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou."
(Adélia Prado: Com licença poética)

Hoje decorei esse poema!
Mas o primeiro que sei de memória aconteceu sem a intenção...

Faz apenas uns quatro anos que percebi que havia uns versos que “desde sempre estiveram por ali”. Só lembrava que eram de uma cartilha. Minha mãe, que já foi professora primária, confirmou, com certa surpresa, a procedência: a “Caminho Suave”, da segunda série primária. Hoje, usando a Onipresença e Onisciência do Google, sei que o poeminha é "Casa Pequenina", de Branca Alves de Lima.

Antes desta “descoberta mental” descrita, nos tempos das gincanas do colégio, eu era tímida o suficiente para não gostar muito do palco. Mas suficientemente boa pra ficar responsável pelas declamações de poemas. Nada muito artístico, diga-se de passagem!

Hoje, decorei um poema. Não aconteceu “sem quê nem porquê” como com o primeiro. Não tinha intenção de pontos para a equipe, como nos tempos do colégio. Apenas por vontade, desejo, necessicade!?.

Disseram-me uma vez que o sentido da expressão “saber decor" é saber de coração. Caso eu não o soubesse, agora sei!
.
.

domingo, 20 de setembro de 2009

Na volta que o mundo dá


Escrevendo para uma amiga que viveu comigo na Terra do Nunca*, tava cantarolando mentalmente essa música, que ouvíamos na época.
.
Então me dei conta da antigatualidade constante desta letra em minha vida...


Ela se enrosca com a minha saudade das gentes que amo, com algo que escrevi no meu perfil do blog e também com uma outra coisa que postei por aqui, sobre o encontro conosco mesmo quando estamos fora de nosso lugar...

Abaixo a letra da música e duas versões. Uma delas com Vânia Abreu, cantora cuja voz me apresentou essa música. A outra versão, mais melódica, é uma gravação de rádio com Vicente Barreto!

NA VOLTA QUE O MUNDO DÁ

(Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro)

“Um dia eu senti um desejo profundo

De me aventurar nesse mundo
Pra ver onde o mundo vai dar
Saí do meu canto na beira do rio

E fui prum convés de navio
Seguindo pros rumos do mar
Pisei muito porto de língua estrangeira

Amei muita moça solteira
Fiz muita cantiga por lá
Varei cordilheira, geleira e deserto

O mundo pra mim ficou perto
E a terra parou de rodar
Com o tempo

Foi dando uma coisa em meu peito
Um aperto difícil da gente explicar
Saudade, não sei bem de quê

Tristeza, não sei bem por que
Vontade até sem querer de chorar
Angústia de não se entender

Um tédio que a gente nem crê
Anseio de tudo esquecer e voltar
Juntei os meus troços num saco de pano

Telegrafei pro meu mano
Dizendo que ia chegar
Agora aprendi por que o mundo dá volta
Quanto mais a gente se solta
Mais fica no mesmo lugar"








(*) Assis- SP. Brasil. Apelidada carinhosamente de Terra do Nunca, pelos Unespianos que lá estudaram.
Imagem: capa do CD Seio da Bahia, onde Vânia Abreu gravou essa música.
.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Feira do Pau


A Feira do Pau é uma feira de artesanato que acontece todo sábado de manhã, em uma praça em frente ao Porto de Pesca de Maputo, Moçambique.
Ela tem esse nome devido as inúmeras esculturas em madeira pau-preto que comercializa.
Sabe essa essa foto aí em cima? Então, os trabalhos expostos no chão e essas esculturas em madeira mais escura são feitas deste
pau.
.
Infelizmente o Pau-preto está em risco de extinção. Porém as pessoas, por desinformação ou despreocupação, continuam a trabalhar com ele.
Felizmente muitos artesãos já se conscientizaram, trabalham com outras madeiras e posteriormente passam uma tinta, para dar um
"efeito pau-preto".

Eis uma tentativa de compra:
_Se faz favor, quanto custa cada chaveiro deste?
_Chaveiro... Hum... Porta-chave?
_Sim, quanto custa o porta-chave?
_Trinta trinta.
_Trinta meticais? É muito!!
_Mamá, veja a minha arte. Não é muito...
_Não, muito obrigada. Vou passear mais um pouco!
_Amiga brasileira, há de fazer negócio comigo!
_...
_Anda lá... Quantos há de levar?
_Se eu levar dez peças, a quanto o senhor me vende?
_Se levar dez, faço por duzentos!
_Deixa ver... Ok!

A brasileira escolhe dez porta-chaves em formato de pequenas esculturas. Paga e já saindo é assolada por uma dúvida cruel!
Com uma das peças na mão, ela se dirige ao artesão e pergunta:
_Isso é de pau-preto ou de madeira pintada?
_Pau-preto! É Pau-preto!
_Senhor, me fale a verdade! Se for de pau-preto eu não vou levar!
_Não, amiga brasileira, é pau preto! Estou a dizer! - Diz sorrindo, todo orgulhoso, tentando provar a origem "nobre" do material.
_Senhor, tente perceber: Estou a dizer que eu prefiro que o porta-chave seja de madeira pintada! O Pau-preto está em risco de extinção e não podem mais fazer trabalhos com ele! Então pode dizer que é madeira pintada, não tem problema!
_Não estou a mentir! É pau preto!
_Está bem, então eu quero meu dinheiro de volta e devolvo os porta-chaves!
_Não, amiga, não tem problema! É pau-preto, muito bonito!!

A brasileira busca os outros chaveiros que já estavam dentro da sua bolsa (Pensamento:
Ai, porque eu fui recusar a sacolinha-plástica-poluente-maltita?). Enfim, acha todos, conta para conferir o número e entrega ao vendedor!
_Senhor, por favor, confira se tem dez peças!
_Está certo, sim senhora... Mas senhora, é de pau-preto! Estou a dizer! Há de levar!!!

E a conversa se estende até ele devolver os duzentos meticais. E talvez não tenha entendido o motivo da devolução.
.
PS: a foto foi tirada neste sábado, dia 19, depois da tentativa de compra frustrada descrita acima!
.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Notícias Africanas 09 (Reino da Suazilândia)


Chegou o momento de falar sobre a Suazilândia! Como muitas pessoas, eu nem sabia da existência da Suazi, antes de chegar a Moçambique.

Suazilândia é um país bem pequenininho, rodeado quase que inteiramente pela África do Sul, exceto a leste, onde faz fronteira com Moçambique. Tudo o que me informaram sobre esse país antes de minha partida é que lá era frio e montanhoso. Logo pensei: “_Serras gaúchas aí vamos nós!!"

Com um final de semana prolongado, lá fomos nós em busca de novos ares e colocar no passaporte um novo carimbo! Boléia de amigos no sábado cedo e uma pequena viagem de 1h até a fronteira entre os dois países citados.

Enquanto eu “fazia a fronteira” observei que na construção havia duas fotos enquadradas na parede. Em uma delas estava Mswati III, o rei atual, e na outra o rei anterior, seu pai. E o mais interessante é que aqui o rei não é “de enfeite”! O país tem uma monarquia absolutista mesmo. Nada tem maior, ou igual poder, do que o rei, que, assim, concentra em sua própria pessoa os poderes legislativo, executivo e judiciário! Poder absoluto, ainda que em um pequeno território!

O rei tem treze esposas. Ao menos esse era o número a um ano atrás. Talvez alguma outra já tenha se juntado a elas. Disseram-me que tem um dia no ano que as famílias levam suas mulheres para a praça, onde o rei escolherá uma delas para se casar. Inclusive, depois de modificar uma lei que proibia o casamento de menores de 18 anos, ele mesmo se casou com uma moça de 17. Mas que fique dito que aqui privilégio do rei é escolher a esposa na praça, porém a poligamia é permitida a todos os homens.

E, já no caminho, pudemos observar que Mswati III é onipresente! Isso porque seu rosto está por tudo o que é lado, inclusive na estampa das capulanas que as pessoas usam ao caminhar pela estrada. Estrada essa sempre com uma ou outra pessoa, porque me pareceu que é tudo muito espalhado. Uma casinha aqui, outra lááá ao longe. Casinhas de caniço ou de barro, cobertas com teto de palha. Palha que está à venda (?) ao longo de toda estrada... Eu, em minha ingenuidade, achei que fosse uma espécie de feno, pra alimentar as vacas. Ai, ai...

Ah, as vacas! Elas não ficam em cercados. Para desespero dos motoristas vivem aos montes e por toda a estrada. Algumas são marcadas a ferro, outras, não tem nenhum sinal visível para olhos mal treinados como os meus. Difícil saber de quem é a vaca. Andam sozinhas entre, ao lado e na estrada. Não tem medo dos carros que, pacientemente, tem que parar para que as bovinas passarem... Ca da u ma a se u tem po... ...

A capital do país, Mbabane, é também bem pequena. Lembrou-me as pequenas cidades do interior de São Paulo. Eu não sei quantos habitantes tem a cidade, mas o país tem pouco mais de um milhão. E quando eu digo que o país é pequeno, é mesmo! Um pouquinho mais que 3 vezes o Distrito Federal (Brasil).

O povo vive do que produz em seu quintal, de suas vacas e do artesanato. As esculturas e os demais objetos trabalhados por eles são absurdamente lindos, porém os batiques não são tão bonitos quanto os dos moçambicanos. Falam inglês e suazi. Os produtos industrializados são advindos maciçamente da África do Sul.

É uma gente muito, mas muito, simpática e bonita. Aqui as mulheres carecas também são freqüentes, o que destoa das tranças de Moçambique e do laquê da África do Sul. O país tem um altíssimo índice de HIV, algo como 35% da população vive com o vírus. Como eu brincava essa semana com uma amiga, o país é uma bomba: gente simpática, bonita e com 35% de HIV!! Seria cômico se não fosse trágico...

Bem, só posso dizer que desfrutar da arte, do artesanato e da estada na terra dos suazis foi muito bom! Pena que final de semana prolongado dura pouco.

Quando alguém estiver por essas bandas, visitando algum país mais conhecido, dê uma voltinha por lá! Cruza-se a Suazi de leste a oeste em apenas 4 horas! "_Vala pena!"- como diriam os vizinhos moçambicanos!
.

.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Notícias Africanas 08 (África do Sul)


A parte boa dessas notícias, é que elas são africanas, e não moçambicanas. Assim, posso dividir com vocês outros trajetos de minhas andanças!

Aproveitando a temporada, visitei a África do Sul e a Suazilândia.

A diferença entre os dois países já começa pela popularidade! Enquanto muitos tomam a África do Sul como sendo a África em si, a maioria das pessoas nunca ouviu falar na Suazilândia.

Por ordem de chegada, vamos primeiro a África do Sul. Ordem de chegada minha, que fique claro! É que para vir para Moçambique, temos que fazer escala no aeroporto de Johanesburgo. Isso porque esse aeroporto faz (eu acho) quase todas as escalas para posterior distribuição dos passageiros que vão para os demais países do continente africano.

Detalhes do aeroporto: de tão grande, boa parte dele é servido de esteiras rolantes; tem uma loja enorme de super mau gosto, que exibe uma pele de zebra na parede e uma bacia de metal gigante cheinha de marfim; no banheiro feminino quem fazia a limpeza era um homem.

Depois, conheci uma cidadezinha chamada Nelspruit. É pra lá que quem vive em Maputo- capital de Moçambique- vai para “consumir”. Essa cidadezinha é linda. Tem os "ares londrinos da minha imaginação" (risos)... Ruas largas e limpas, casas gramadas, tudo sempre novinho e bem cuidado!

E, como eu disse que nessa cidade se consome, passeemos no shopping center. Pra começar, as pessoas mistas são praticamente inexistentes, assim como aqui em Moçambique. Ou se é negro, ou se é branco. Realmente o fenômeno da miscigenação no Brasil é fantástico! Também não precisava dizer, mas vou correr o risco de ser óbvia: quem trabalha servindo as mesas e na limpeza são pessoas negras.

Agora, falemos do vestuário, moda, estética ou algo que o valha. As crianças são lindas, mas os adultos, nem por isso! Tudo muito diferente de nosso padrão. Mulheres: os cabelos curtos ou médios, sempre com muito laquê ou alguma outra goma, não se movem de tão duros. O golpe de misericórdia fica por conta das unhas dos pés e das mãos pintadas de laranja fluorescente ou verde limão. Homens: chapéu, bermuda e camisa estilo Indiana Jones.

Pra terminar a sessão sobre a South Africa, um fato muitíssimo interessante: as crianças e adolescentes andam descalço. Seja na praça de alimentação ou no banheiro molhado. Os pés nus indo e vindo sem nenhum pudor ou nojo. Alguns adultos também andam sem nada nos pés, porém com menor frequencia. Mesmo assim algumas pessoas me descreveram que na passagem de ano 2008/2009 viam os sulafricanos entrando e saindo dos lugares com os pés no chão, mesmo com a absurda quentura da areia ou do asfalto; mesmo com a molhadez do banheiro cheio de líquido suspeito escorrendo pelo chão.
.
Mas, devaneando, a distribuição dos pés nus não é por igual! Os negros não andam descalços. E os meninos andam mais descalços que as meninas... Ah, e não preciso dizer que não acredito neste tipo de coincidência, né? Valendo-me da velha frase “quem pode mais chora menos”... Quanto menos valor se tem, mais é necessário provar algo... Talvez uma pessoa negra andando descalço poderia parecer que ela não tem sapatos... Já para um branco talvez seja uma maneira de dizer: “nem preciso desse tipo de coisa”... “sou o que sou”...
Devaneios, né? Talvez até exista alguma outra justificativa para essa diferença... mas deixo isso pra outro alguém apontar...

Por hora é isso...
Continuo logo em breve, falando da Suazi!

PS: A imagem que ilustra essa postagem é uma foto de um agradabilíssimo shopping country da cidade... A comida divina é servida com um bom vinho sulafricano, enquanto os visitantes se sentam a grandes mesas de madeira maciça estrategicamente posicionadas embaixo de acolhedoras mangueiras. Onde estão as mangueiras? Bem ali, atrás desta construção!!!
.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Terra Sonâmbula


Durante a preparação das futuras Notícias Africanas, me deparei com uma ótima novidade no blog Moçambique Magazine.

A tal novidade é que o livro Terra Sonâmbula, do escritor moçambicano Mia Couto, é uma das obras literárias que a Universidade Federal da Grande Dourados indica para o vestibular de 2010!

Fiquei muito contente porque esse livro é realmente muito especial! Não porque tenha ganhado o título de uns dos melhores livros africanos do século XX, mas porque Mia faz de sua prosa uma deliciosa poesia.

E, na gostosura de seu relato, nos apresenta um pouco das crenças, valores e história do povo moçambicano. O enredo é sobre um menino que anda pela estrada com um velho que lhe salvou a vida, e sobre um rapaz que saiu de casa após a morte do pai em busca de ser um guerreiro naparama e, assim, lutar contra os senhores da guerra. Os relatos se encontram porque a primeira dupla lê o diário do aspirante a guerreiro, tendo como pano de fundo a recente guerra civil moçambicana.

Só sei que desejo profundamente que a versão brasileira não tenha feito nenhum tipo de adaptação da obra, preservando assim as palavras e construções originais das frases.
.
Caso esteja no Brasil e queria adquirir o livro, clique aqui.
E como também já virou filme, abaixo o trailer!

No mais, boa leitura ou sessão de vídeo!




.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A nível de...


Ontem, olhando um vídeo do Youtube que uma amiga sugeriu, passeei meus olhos na barrinha ao lado e encontrei uma velha conhecida: a música “A nível de...”, composta por João Bosco e Aldir Blanc.

Há uns anos atrás, quando os brasileiros cismaram em falar “a nível de” a todo momento, eu brincava que o único “a nível de” permitido era essa música, porque tinha licença poética!

Detalhe: pelo que vi no Almas Corsárias, essa música foi gravada em 1982. Ou seja, em plena ditadura militar, que no Brasil foi de 1964 à 1985!

Bem, depois de revisitar essa pérola, penso que eu tiraria uns sopapos da letra da música e os comentários trouxas do Skowa deste vídeo...

Abaixo, letra e música. A nível de diversão, vale a pena!!
.
A nível de...
Composição: João Bosco & Aldir Blanc
.
“Vanderley e Odilon
são muito unidos
e vão pro Maracanã
todo domingo
criticando o casamento
e o papo mostra
que o casamento anda uma bosta...
.
Yolanda e Adelina
são muito unidas
e se fazem companhia
todo domingo
que os maridos vão pro jogo.
Yolanda aposta
que assim a nível de proposta
o casamento anda uma bosta
e a Adelina não discorda.
.
Estruturou-se um troca-troca
e os quatro: hum-hum... ok... tá bom... é...
Só que Odilon,
não pegando bem a coisa,
agarrou o Vanderley
e a Yolanda ó na Adelina.
.
Vanderley e Odilon
bem mais unidos
empataram capital
e estão montando
restaurante natural
cuja proposta
é cada um come o que gosta.
.
Yolanda e Adelina
bem mais unidas
acham viver um barato
e pra provar
tão fazendo artesanato
e pela amostra
Yolanda aposta na resposta.
E Adelina não discorda
que pinta e borda com o que gosta.
.
É positiva essa proposta
de quatro: hum-hum... ok... tá bom... é...
Só que Odilon
ensopapa o Vanderley com ciúme
e Adelina dá na cara de Yoyô...
.
Vanderley e Odilon
Yolanda e Adelina
cada um faz o que gosta
e o relacionamento...
continua a mesma bosta!”








.
PS: Na foto, Mariene de Castro.
PS1: No vídeo, Luciana Mello, Jair Oliveira, Mariene de Castro e Skowa. Gravação do DVD "O Samba Me Cantou"
Fonte da imagem: http://farm4.static.flickr.com/3298/3546903501_3e2df17fc3.jpg?v=0
.