sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Dia das Bruxas à Brasileira


Mais um Dia das Bruxas!
Por muito tempo só via a coisa “americanóide” dessa data... Na verdade, nem sei muito sobre o "como quando e por que" surgiu...


Mas boas resignificações são sempre bem-vindas!
Pra bruxa mulher comemorada em sua força, autonomia, magia, mistérios é muito interessante...
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A bruxa Lilith, curandeira, amazona, despudorada, corajosa, que de tanto não compactuar com o ideal machista de submissão, levou o nome de bruxa!

Sendo assim, salve a bruxa em cada uma de nós!

E, pra coisa ficar mais brejeira, nada como uma musiquinha tocada na viola. E a abóbora é bem-vinda! Não para caretas, e sim temperadinha na panela/caldeirão!
É... um dia das bruxas bem à brasileira!

Rasta Bonito (Almir Sater e Renato Teixeira)

Se proteja moço
Que essa noite o frio
Vem cortando a alma
Vem que vem no cio
Vão se ouvir ao longe
Um mundo de gritos
Da dança dos lobos
O rasta bonito

Se você conhece
Você é um lobo
Que saiu das matas
Pra jogar o jogo
Mas na lua cheia
Você fica aflito
Sai na janela
E uiva bonito
Iêiêêêêêêêê....

Ao bater a noite
Seu olhar em brasa
Olha para a lua
No teto da casa
Um neon na mesa
O som nas alturas
Você vira um bicho
E o rasta te cura
Iêiêêêêêêêê....

O temor amigo
É um mito antigo
Tanto tempo faz
Que a gente se arrepia
Alma do outro mundo
Gosta é de poesia
Dos bares da moda
E de muita folia

Pode ser agora
Pode ser um dia
Pode ser jamais
E você não sabia
Que nas sextas-feiras
Das noites aflitas
As bruxas possuem
As moças bonitas
Iêiêêêêêêêê....


Aqui, um pouco do Rasta Bonito... Não está inteira, mas dá pra sentir a levada!
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Fonte da imagem: http://api.ning.com/files/hObPfrykIIeV5qCCiODzOT0fs*TOTvOzMrjokgtykypGg7vLs3*4tJvumMsQa0jRqM8mVoenK55Tss4o88iKgwOyY*k4Tn1U/Lilith.jpg

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Todos os Direitos para Todas as Mulheres!


Embora me sobrasse vontade, eu não pude ir ao "IV Encontro Feminista do Paraguai".

Abaixo, compartilho com vocês o manifesto escrito durante o encontro.

Mesmo que algum dado seja específico do Paraguai, as reinvindicações são o que também desejamos para o Brasil ou Moçambique; para América Latina ou África; para países pobres e países ricos...

Se tais reinvindicações forem atendidas, avançamos na construção de um mundo mais justo, solidário e cidadão, para todas e todos!
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Manifiesto del IV Encuentro Feminista del Paraguay
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TODOS LOS DERECHOS PARA TODAS LAS MUJERES
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Nos encontramos en este espacio feministas de todos los rincones del Paraguay, con nuestras historias, nuestras penas, nuestras luchas, nuestros deseos, nuestras ganas de estar, de conversar, de discutir, de criticarnos, de planear, de divertirnos y de aprender unas de otras y entre todas.

Agradecemos la hospitalidad de San Bernardino, ciudad que nos recibe por tercera vez en este encuentro donde ponemos en común y soñamos con caminos para que todas las mujeres tengamos los derechos que hoy la mayoría no puede ejercer.

Tenemos algunos motivos de rabia, en especial contra las mentiras fundamentalistas que pretenden que cualquiera tenga derechos sobre nuestros cuerpos, menos nosotras. Pero también con la gran alegría de contar por primera vez en la historia de nuestros encuentros feministas la presencia organizada y las actividades de compañeras trabajadoras domésticas, de trabajadoras sexuales y transgénero, pues sólo con la voz propia de ellas podremos construir un mundo sin discriminaciones.

Recordaremos estos días, 23, 24 y 25 de octubre de 2009 como días maravillosos para el feminismo del Paraguay, días de arte, días de creatividad, días de debates y disenso, de conocernos y reconocernos con compañeras con quienes compartimos este camino de lograr todos los derechos para todas las mujeres.

Salimos de este IV encuentro dispuestas a:
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Terminar con la discriminación laboral legal de las empleadas del servicio doméstico, con la discriminación real salarial y con el acoso sexual en el trabajo.

* Construir un país sin marginación y sin discriminaciones para las lesbianas y para las personas travestis, transgéneros y transexuales, donde la diversidad sexual sea reconocida y valorada.

* Exigir al gobierno que cumpla sus promesas con los pueblos indígenas y se hagan realidad los derechos de todas las mujeres indígenas, cuyas condiciones de vida han empeorado en los últimos 5 años.

* Estar codo a codo con las mujeres rurales para que haya una reforma agraria integral con igualdad de género. ¡Basta de dilaciones! ¡Tenemos todo para terminar con la pobreza vergonzosa, el Paraguay es un país rico, con tierras fértiles y gente empobrecida!

* Repudiar la violencia en todas sus formas. Lo hemos hecho ante intentos de golpe de Estado, ante el asesinato político y ante los secuestros. Pero no es posible que las autoridades y la población sigan cruzándose de brazos ante la persistencia de la violencia hacia las mujeres, ni que los periodistas continúen hablando de crímenes pasionales ante los asesinatos de las mujeres, ni que se normalicen el tráfico y la trata de mujeres niñas y niños con fines de explotación sexual. La violencia de género no es un problema de las mujeres solamente, ni sólo de la Secretaría de la Mujer, es una violación constante de los derechos humanos de la mitad de la población.

* No más muertes de mujeres, que se declare emergencia ante la persistencia de los altos índices de mortalidad materna, muertes evitables, muertes debidas a la pobreza, a la ignorancia y a la penalización del aborto en el Paraguay.

* Queremos educación de calidad para todas las personas del Paraguay y en cambio persisten el analfabetismo, la deserción escolar y prácticas que desconocen que el Paraguay es un Estado laico y un país diverso. Es urgente una educación de calidad para la igualdad de oportunidades y la convivencia entre diferentes.

* Hoy somos el país con más baja participación de mujeres en órganos de decisión y en las esferas políticas y públicas. La paridad es sólo cuestión de voluntad política y ya no admite dilaciones. Queremos un 50% de mujeres en los cargos electivos, al frente de los ministerios y en los tres primeros niveles de toda la administración pública ¡Ya!

* La injusticia en todo sentido y especialmente la del Poder Judicial hace que no se administre justicia sino que se decida con parámetros sexistas, clasistas, racistas y lesbofóbicos. La renovación del Poder Judicial con un sistema de nominación despartidizado es el urgente primer paso hacia nuestro acceso a la justicia.

* Construir y posicionar como derechos a los derechos sexuales y reproductivos, al trabajo y al cuidado, con corresponsabilidad entre todas las personas, pues son derechos de los que disfrutaremos colectivamente.

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POR LA APROBACIÓN DE LA LEY CONTRA TODA FORMA DE DISCRIMINACIÓN, LA LEY DE LENGUAS Y DE LA LEY DE SALUD SEXUAL Y REPRODUCTIVA

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POR LA VIGENCIA DE TODOS LOS DERECHOS PARA TODAS LAS MUJERES
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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Escândalos Invisíveis (Osvaldo Russo)


"A destruição de 2 hectares de um laranjal, plantado em extensa área pública da União ocupada ilegalmente por uma grande empresa privada, orquestrada pela mídia e pelos interesses do agronegócio, escandaliza.

Enquanto isso, milhares de famílias estão acampadas em beira de estradas, trabalhadores são escravizados em pleno século 21 e trabalhadores rurais, líderes sindicais, religiosos e advogados são assassinados no Brasil.

Mas isso não escandaliza.

Milhares de processos estão travados na justiça emperrando as desapropriações para fins de reforma agrária e deixando sem solução os crimes do latifúndio e de sua pistolagem.

Mas isso não escandaliza.

As denúncia são sobre casos de trabalho escravo contemporâneo atingem um recorde histórico no Brasil, de acordo com o relatório "Conflitos no Campo Brasil 2008", elaborado pela Comissão Pastoral da Terra, que registra 280 ocorrências no ano passado. Ao todo, os casos relatados pela CPT envolveram sete mil trabalhadores, 86 deles crianças e adolescentes, tendo havido 5,2 mil libertações.

Mas isso não escandaliza.
(...)

Ideólogos do agronegócio escravocrata tentam explicar o injustificável, chegando a afirmar que 'o principal objetivo desse trabalhador em eventual fuga da fazenda e posterior retorno trazendo a fiscalização trabalhista não seria apenas evitar o pagamento da dívida contraída com o empreiteiro, mas, talvez muito mais importante, receber a multa de vários milhares de reais, comumente imposta pelo fiscal ao agricultor e em favor do trabalhador, sob a acusação de prática de trabalho escravo por parte do fazendeiro. Além disso, os trabalhadores libertados passam a receber seguro desemprego, sendo possível que, depois, passem a receber também Bolsa Família'.

Mas isso não escandaliza.
(...)

Antes da Abolição, a rebeldia dos escravos escandalizava, mas o açoite neles não."
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Alguns grifos são meus...

Para ler o texto na íntegra, clique aqui.
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sábado, 17 de outubro de 2009

Notícias Africanas 10 (Pemba, que não é de Angola)


Nas últimas Notícias, falei das viagens ao redor de Moçambique. Hoje vou contar da viagem que fiz a Pemba, capital da província de Cabo Delgado, região norte de Moçambique!

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Antes da viagem, já foi interessante alguns colegas de trabalho moçambicanos admirando a visita à Pemba. Então me dei conta que quase ninguém conhecia aquela província. Isso devido a distância e, consequentemente, aos preços daquele deslocamento.

Assim como no Brasil, onde só os mais privilegiados conseguem conhecer uma região bem distante de onde vivem, lá acontece a mesma coisa. Moçambique é grande! E Maputo é no Sul do país. É mais fácil, ir à África do Sul.


Mas, voltemos a Pemba! Ali encontramos a terceira maior baia do mundo! E, talvez, a mais linda! Suas águas são multicores. Pinta-se de azul escuro (índigo blue), azul claro, verde água e transparências quase irreais!


Passeando de barco pela baia, podemos nadar em jardins de corais, junto a peixes de diversos tamanhos e cores. Ver estrelas do mar e ser surpreendidos por um bando de golfinhos! Segundo explicações locais, eles gostam do barulho do motor do barco e vem saudar os visitantes! Curioso também é a percepção do nosso condutor! Homem do mar avista os golfinhos quando apenas ondas são perceptíveis para moças da terra.

E as belezas da terra são muitas. Primeiro o majestoso hotel, cuja arquitetura denuncia a proximidade de Pemba com o Oriente, quer seja o “médio”, quer seja o indiano. Mas para não torturar ninguém com meus conhecimentos tortos sobre o tema, confiram na fotografia isso que falo da construção!

E, em terra, encontramos ainda um dos mais ilustres símbolos africanos: o baobá! Aqui chamado de imbondeiro! A visão da grande árvore já nos arremessa para as lembranças do “Pequeno Príncipe”! Mas sobretudo é uma visão praticamente mística. Talvez seja impossível olhar para essa árvore, ao menos uma vez, e não se admirar de algo... Os sentimentos podem ser diversos, mas para mim foi que aquela vida era plena e forte e grande e imponente e gigante e acolhedora e geradora e bastante e bastava.

Confesso que mesmo com as distâncias continentais, pensei na “Pacha Mama”, divindade feminina, Deusa de origem andina, que é cultuada em alguns lugares da América do Sul, principalmente na Bolívia. Não conheço muito sobre ela, mas uma das coisas que sei é que está ligada a terra, e às vezes é representada por uma árvore. Humm, e se é uma Deusa, bem que poderia esta alí no "meu baobá"...

Posteriormente, um homem de Pemba, que vive em Maputo, me contou que o imbondeiro é usado em alguns rituais tradicionais. Quando uma pessoa precisa de mais força, saúde, coragem, quando está passando por momentos na vida que necessita de muita ajuda, faz-se um rito junto ao imbondeiro, pedindo-lhe a força que tanto demonstra ter. Algumas pessoas ainda cavam seu tronco e fazem ali sua morada.

Eles existem aos montes! Na cidade, na mata, nas ilhas... Estão por todo canto! Estão também no caminho “das compras”.

Apesar de não ser uma “Meca do Consumo”, Pemba conta com um artesanato admirável. Encanta-me as esculturas em madeira (e as histórias que os vendedores contam sobre elas, caso alguém mais curios@ pergunte...). Mas particularmente, o que chama a atenção da maioria dos turistas, são os brincos, colares e pulseiras feitas de fios de prata. O metal é trabalhado aos fiozinhos, formando verdadeiras rendas metálicas, belíssimas!

Há também uma rua onde se pode comprar capulanas muito diferentes das encontradas em Maputo. Elas são capulanas da Tanzânia, país que faz divisa com Cabo Delgado. Frente a tanta beleza, difícil é resistir a esses tecidos... Um pouco mais difícil é convencer o “Raio X” do aeroporto que não há problemas em levar essas capulanas.

Como assim, convencer o “Raio X”? Bem, é que no aeroporto não existe essas tecnologias, então antes de sair da cidade sua mala e você são submetidos a uma revista a moda antiga: a visão e o tato das funcionárias e funcionários do aeroporto!

Seja como for, não é nada complicado ou invasivo! Se tiver oportunidade de grandes viagens, conheça Pemba!
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Pela Despatologização da Transexualidade


Às pessoas transexuais, meu carinho e admiração pela luta!
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Para quem não sabe, CID é a Classificação Internacional de Doenças, que ainda considera a transexualidade uma doença!
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Segundo essa classificação, a pessoa que nasceu, por exemplo, com um pênis, mas se sente uma mulher, é doente! Mesmo que essa pessoa trabalhe, namore, estude e leve uma vida como todas as outras!
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Lembro de um "jargão psicanalítico" que diz que uma pessoa saudável é aquela que consegue "amar e trabalhar"! E, se assim é, pra mim, isso basta!
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Agora, vamos combinar que se de antemão a pessoa já é considerada uma doente, vai ser difícil viver a vida "amando e trabalhando" como todas as outras demais! E neste caso, não há duvidas como aquela do "ovo e da galinha". Quem é considerada doente mental (mesmo não o sendo) sofre tanto que pode acabar adoecendo! Como diria um professor meu, esse tipo de coisa são "profecias auto-realizáveis"!
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Logo, lutemos todos por essa despatologização!
Para saber mais sobre o tema, clique aqui!
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terça-feira, 13 de outubro de 2009

Belchior e Eu!

Passendo pelo Orkut, fui surpreendida por uma tirinha na página de uma amiga!
Isso porque a tirinha citava Porecatu! Cidade que dificilmente alguém sabe da existência...

Bicho do mato, é aqui que fui criada... E é por aqui estou...

Vim me esconder junto com o Belchior!! E até gosto da companhia!!


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Porecatu fica as margens do rio Paranapanema, Norte do Paraná, divisa com o Estado de São Paulo, Brasil, América do Sul, Hemisfério das Águas do Planeta Terra, Sistema Solar!
Faça-nos uma vista!!
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PS: até final de semana posto mais Notícias Africanas! Com a ajuda de meu pé esquerdo torcido a pouco, é quase certeza que elas cherarão logo! hehe
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Quanto Dura o Amor?


Terça-feira, dia 06, assisti "Quanto Dura o Amor?", no cinema HSBC Belas Artes, na cidade de São Paulo.

Na verdade, quando Maria Clara Spinelli, uma das atrizes do filme, me contou desta produção, pensei que dificilmente eu chegaria a vê-la.

Afinal, mesmo que o cinema nacional esteja ganhando público, esse último ainda está muito aquém do desejado, fazendo que os filmes nacionais ainda tenham dificuldade de entrar, e permanecer, no circuito comercial.

E não é que, para minha surpresa, o filme estreou justamente nos dias de minha passagem por São Paulo? E, pasmem: está em várias salas de cinema!
Feliz, alegre e contente, combinei de ir ao cinema com algumas amigas e, de lambuja, participar de uma conversa com diretor e elenco após a sessão.

Alguns apontamentos:

- O filme é bem bacana! Fala dos encontros e desencontros amorosos na cidade de São Paulo. Uma tragicomédia leve e gostosa de assistir! Identificamo-nos facilmente com os personagens do filme! Tanto que algumas pessoas tendem a dizer que o tema é “universal”! Nem tanto porque o universo é muito maior do que a gente imagina! Mas essa tendência já diz que quem vai ao cinema não irá querer o valor do ingresso de volta!

- Os produtores (não sei se é bem esse o nome) tiveram alguma dificuldade de captar recurso porque alguns financiadores entenderam que se tratava de um filme “GLS”. Fiquei chocada com esse apontamento. Não é nenhuma surpresa que alguém recuse financiar algo “GLS”, mas minha surpresa foi por conta que assisti ao filme e não achei que era “GLS”!! Das duas uma: ou quem negou verba escafunchou até achar alguma coisa que justificaria dizer não OU a rotulação das coisas está tão na ordem do dia que a simples presença de personagens com comportamentos "não heteronormativos" seja suficiente para resumir o filme a esse aspecto.

-Perguntas: o filme de título tosco “Matadores deVampiras Lésbicas” é GLS? Teve dificuldades em captar verba devido a temática centra e explicita do título? Caso você tenha ficado na dúvida, vale 30 segundos de reflexão!

Ah, e antes que eu me esqueça, como não dizer que além de estar em ótimas salas da cidade de São Paulo, “Quanto Dura o Amor?”teve ótima recepção em Assis, cidade da atriz Maria Clara Spinelli. Cidade que não tem muita tradição em prestigiar o cinema, muito menos o cinema nacional.

Claro que a primeira leva de pessoas pode ter saído de casa apenas para ver na telona a atriz conterrânea. Porém se o filme não fosse realmente bom, teria público para apenas duas sessões, coisa não rara até para bons filmes em Assis. Só que desta vez isso não aconteceu!

Dá tempo! “Quanto Dura o Amor?” ainda está em cartaz!


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PS: e como não comentar a coisa fofa que foi o elenco fazendo uma pequena confusão com a sigla "LGBT"! Politicamente bem orientad@s, cuidaram dessa questão com enorme carinho! Salve Paula Pretta, Maria Clara e Silvia Lourenço! _Salve!
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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Já comeste um morcego?


Quando eu estava no "colégio", uma das melhores coisas que me aconteceram foi ter um professor chamado Dionísio Santos De Souza. Na primeira aula de Filosofia ele nos presenteou com uma crônica de Paulo Mendes Campos, entitulada "Para Maria da Graça".

Trecho:
"Agora, que chegaste à idade avançada de 15 anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas.
Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.

Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.

A realidade, Maria, é louca.

Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade Dinah, já comeste um morcego?"

Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira.

A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada ou vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.

Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial, e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo.

Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave.

A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gato se fosses eu?" (...).

Clique aqui para ler a crônica inteira.
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