sábado, 21 de agosto de 2010

Homofobia no Brasil (TV Gazeta)


No início deste mês recebi um telefonema de Maria Antônia, no qual me convidava para gravar uma entrevista na TV Gazeta. O programa era o "Em questão", apresentado por Maria Lydia.

A entrevista foi ao ar no dia 08/08/2010,às 23h45. Como alguns querid@s não tem a TV Gazeta em sua cidade (nem TV a cabo ou parabólica), ainda me pedem os links do Youtube. Assim, resolvi postar aqui pra facilitar.

"A Constituição Brasileira estabelece que todos são iguais perante a lei. Expressa também que constitui objetivo fundamental da república promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Em Questão quer saber: no Brasil, o Estado cumpre este dever? Em relação à orientação sexual do indivíduo, a apregoada isonomia é respeitada? O que explica tantos brasileiros assumirem publicamente que não gostam e não aceitam a homossexualidade?
Convidados:
Dimitri Sales - Coord. Políticas para Diversidade Sexual / SP
Gustavo Venturi - Sociólogo / USP
Janaína Leslão - Psicóloga / Colaboradora da LBL"


Parte 1: países com leis para homossexuais; Estado Brasileiro; políticos; preconceito; machismo


Parte 2: homossexuais ou LGBT?; orientação ou opção sexual?



Parte 03: origens dos rótulos; poder; sexualidade feminina; direitos humanos.


Parte 4: educação sexual na escola; religião; adoção; criança; família.


Parte 5 (assuntos): ambiente de trabalho; acompanhamento psicológico; legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo;


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Fotografia tirada durante a 1ª Marcha Nacional Contra a Homofobia- Brasília- 2010
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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mulheres nas Eleições


No Brasil, estamos me pleno período eleitoral. Por isso, no boletim do CFEMEA saiu um texto sobre a quantidade de candidatas que temos nas disputas eleitorais deste ano.

Salvo raríssimos casos, os partidos sequer chegam a cota obrigatória de candidaturas femininas.

Se, por um lado muitos pensam que há um desinteresse generalizado por parte das mulheres a disputarem e assumirem esses postos públicos, por outro lado notamos que há dificuldades concretas para que se coloquem nesses lugares.

Em nossa sociedade, um homem casado, pai de 2 ou 3 filhos, em idade escolar, pode perfeitamente ser um deputado federal. Provavelmente não haveria empecilhos para que ele viajasse todas as semanas, ficando fora de casa de segunda a quinta. Ou mesmo, talvez sua esposa pedisse demissão para a família toda se mudar para a capital federal do Brasil.

E o inverso? Como seria para uma mulher casada e mãe de 2 ou 3 filhos, em idade escolar, ser deputada federal? Seria possível seu marido pedir demissão do emprego para acompanhá-la, junto com as crianças, para Brasília? Ou seria tranquilo para todos que ela passasse as semanas fora de casa, estando presente apenas de sexta a domingo?

Digamos que sim, que essas últimas hipóteses sejam realizáveis. Pergunto: quem é que prepararia o café-da-manhã desta família? Quem cuidaria da arrumação da casa ou das compras dos produtos de limpeza? Quem colocaria na máquina-de-lavar as roupas da família? Provavelmente uma outra mulher, contratada e registrada como empregada doméstica e que, mesmo com esse registro, não teria acesso a todos os benefícios trabalhistas como os demais trabalhadores do país.

Falamos muito em divisão do trabalho doméstico, mas nem tanto do alcance que isso teria na vida das milhares de mulheres aqui e no mundo.

Quando uma mulher assume um posto executivo, de poder, público, ou algo que o valha, e está fora de casa a maior parte do tempo, consequentemente é uma outra mulher que assume suas “obrigações” para com a casa e a família. E, provavelmente, mesmo sendo o marido que esteja presente na casa muito mais que ela, será tarefa da esposa “administrar” a funcionária “doméstica” e suas funções.

Então, com esse quadro, ainda fica a dúvida: quando é que realmente teremos condições de termos minimamente 30% de candidatas nas eleições? Provavelmente quando nossa sociedade incentivá-las a pensar mais em “como acabar com a fome em nosso país” do que “qual o melhor horário para ir a feira comprar legumes a bom preço”.

Fonte da imagem: Banksy

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O Leitinho das Crianças


Sabe aquelas pessoas que são irritantemente pacientes? Pois bem, às vezes sou uma delas! Não em todos os momentos, claro. Mas justamente nos momentos mais graves. Quanto pior o quadro geral, mais tento raciocinar, racionalizar e manter a calma.

Hoje foi um desses dias em que muita gente teria um chilique, mas, fazer o quê? Não adiantava me estressar. Vamos ao prólogo e ao causo em si:

Está escrito que, no Brasil, a saúde é direito de todos e dever do Estado. Aqui também se recomenda que as mães amamentem seus filhos com leite materno por, no mínimo, 6 meses. Acontece que alguns bebês não podem mamar em suas mães porque elas tem alguma doença transmissível por leite materno. Nesses casos, o Estado compra leite pros bebês.

Eu trabalho no SUS- Sistema Único de Saúde, e essas situações realmente acontecem. Hoje tive que sair pra, literalmente, “garantir o leite das crianças”. A tarefa inicialmente é chata, mas não muito complexa. A parte que me cabia no latifúndio era: ir à tesouraria e pegar o cheque e ir a agencia bancária trocar o tal. Dim-dim na mão, o resto quem resolve é a nutricionista.

Tinha resolvido que iria fazer essa “correria” amanhã, mas como deixar o “leitinho das crianças” esperar? A visita agendada pra hoje terminou as 15h30. Com sorte faria tudo antes que o banco fechasse. Mas nada que um caminhão puxando um contêiner, estrategicamente posicionado à frente do veículo em que eu estava, não pusesse em dúvida meu otimismo.

Superado o caminhão, chego ao local pra pegar o tal cheque, desço as escadas com pressa, pego o tal, subo esbaforida. Restam-me exatos 8 minutos. Acelero mais um pouco a vida e, na porta do banco, o tal alarme de metal não quer colaborar. Apenas após 3 tentativas o guarda sugere que eu deixe meus pertences no guarda-volumes. Entro no banco e pego a senha. Horário do comprovante: 15h58. Ufa. Número da senha CC 211. Número no painel CC 170. Aiii.

Acomodei-me o mais confortável possível nos bancos de espera e, depois de muito, fui chamada. Ao conferir as assinaturas, a caixa não tinha certeza sobre uma delas. Buscou o livro com o registro e me perguntou se conferia. “Não é a mesma”, respondi sinceramente. Próxima parada: 1º andar para conversar com a gerente que autorizaria o saque da mesma forma, por conhecer seu cliente. Dois lances de escadas, saque autorizado.

Alegre e contente, voltei ao caixa. A moça só esperava a “minha p´ssoa” para finalizar o atendimento ao público do dia. Ao passar o cheque na máquina, surpresa: O cheque estava bloqueado. Nada que não pudesse se resolver no 1º andar. Nesta altura, já pareciam 6 lances de escada. Lances escalados, papel desbloqueado, voltemos ao caixa. Eu era a única não-funcionária no prédio.

No térreo a moça também exercitava sua paciência. Cheguei, respiramos juntas, algo aliviadas. Enfim o dia de nós duas poderia prosseguir para além de um cheque. Nada mais poderia acontecer. Qual o que... O CHEQUE NÃO TINHA SALDO!

Não, eu não tirei as calças pela cabeça, não matei ninguém, não chamei ninguém de santo. Apenas tive certeza da célebre frase do meu professor da faculdade (ao qual já me referi aqui no blog): não há mal que não possa ser piorado.

Apesar das doses de paciência do mês de agosto terem se esgotado em uma única tarde, garanti o dim-dim pro “leitinho das crianças”. Não sei se servirá, porque depois de tanta enrolação elas já devem ser adolescentes.


Imagem de Lucas Leite

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Pro IBGE, se você for, diga que é!


Ontem, 1º de agosto, começou o Censo 2010. O objetivo é visitar todos os domicílios de todos os municípios brasileiros, mesmo os mais distantes, e fazer perguntas a seus moradores.

O responsável por toda a pesquisa é o IBGE- Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística. Depois de coletar os dados, o instituto analisa o material e traça o perfil da população. E são justamente esses dados que auxiliarão na formulação das políticas públicas.

Em dez anos um país muda bastante, principalmente na área da tecnologia e do acesso a elas. Por isso é que neste ano foram incluídas perguntas sobre uso de celular e internet, por exemplo. Também será possível responder as questões direto de seu computador. Mas o IBGE não terá o questionário online, nem mandará emails pra ninguém. Essa opção só é possível pegando pessoalmente um envelope lacrado, das mãos do recenseador.

E tem mais, pesar de não serem coisas que "surgiram na última década" esse ano também contaremos com perguntas sobre as religiões de matrizes africanas e sobre casais homossexuais. E por que só agora? Porque infelizmente essas duas populações ainda sofrem preconceito e apenas no Censo 2010 acharam que perguntar sobre elas é algo "relevante"!

Se o Censo ajuda a traçar as políticas públicas, a relevância dessas populações coincide com a crescente visibilidade que elas tem conquistado para além da tradicional piadinha-nossa-de-cada-dia. Por isso é tão importante "sair do armário" para o IBGE.

Não, não estamos aqui dizendo que é pra sair batendo na porta de sua vizinhança e dizendo que é do candomblé ou que é gay. Não é isso.
Só estamos dizendo que quando alguém da pesquisa perguntar isso, você responda, de fato, qual é sua religião ou se você vive em união estável com outra pessoa do mesmo sexo.

Perguntinhas que ainda ardem nos ouvidos de muitos e muitas, mas que precisam ser respondidas com sinceridade, para que não se continue chamando o povo do Axé ou os LGBT de "minoria" como se fossem 0,0001% da população.

Para isso, duas campanhas estão na rua. Clique nos títulos abaixo para conhecer mais:

Quem é de Axé diz que é! "Com a campanha, a idéia é conscientizar os adeptos das religiões de matriz africana a se assumirem de acordo com a sua prática, no Censo de 2010. Segundo pesquisadores, é comum a declaração como “católicos” ou a não declaração, fruto de secular processo de estigmatizarão da religiosidade de matriz africana."

Se você for LGBT, diga que É! "Só vão ser contabilizados os casais homossexuais que declararem, no questionário de perguntas, que moram no mesmo domicílio em união estável. O IBGE já utilizou questionários com questões sobre a união estável homossexual em alguns municípios, mas esta será a primeira vez que a pesquisa envolve todas as cidades brasileiras."


Então, pro IBGE, se você for, diga que é!!