sexta-feira, 19 de abril de 2013

Notícias Africanas 13 (de Mz para Br)

Prezada Daniela,

Essa é a segunda carta/mensagem que te escrevo. A primeira foi motivada pelo aniversário de o Canto da Cidade, em um dois de fevereiro, onde fiz referencia as músicas que me acompanharam durante tantas fases de minha vida, moradas, amores, mares e cia... Aquela, diferente desta, foi uma mensagem mais melodiosa, pois melodia é sua arte, em som e movimento.

Hoje, aqui do outro lado do mundo (em relação ao Brasil) volto a te escrever. Escrita um pouco mais dura, mas quero faze-la porque, inusitadamente usei dois vídeos* seus em uma aula de psicologia. Explico: estou pontualmente de volta a Moçambique, cidade em que vivi o ano de 2009, para dar um curso sobre “sexualidade humana” para psicólogos da capital, Maputo. O convite foi feito pela Lambda, ong em que fui voluntária na outra visita por cá.

Ocorre que no continente Africano, temos em torno de 5 (cinco) países que pune com pena de morte as pessoas que se relacionam afetiva/sexualmente com outras do mesmo sexo. Então, embora esse não seja o caso de Moçambique, o foco da formação visava justamente diminuir o preconceito e dar embasamento teórico aos profissionais psicólogos para trabalharem junto as minorias sexuais de modo a promover sua autonomia e cidadania, diminuindo o sofrimento relacionado a não aceitação social e preconceitos.

E, para minha surpresa (?), uma das psicólogas perguntou de ti, quase como um “estudo de caso”. Sinalizei que poderíamos assistir sua primeira entrevista pós publicização do relacionamento com Malu, não como um caso a ser analisado, mas como um posicionamento de dignidade e exercício de cidadania, em um momento tão adverso da história, onde o fundamentalismo moral e religioso, anda recrudescendo. E, o que me encantou e frisei a todos, foi principalmente o fato de você falar durante mais de 10 minutos e em nenhum momento usar um rótulo para definir sua relação. Antes de classificação rotulantes temos o amor entre duas pessoas que se respeitam, que se querem bem e que tem a dignidade e ousadia de viver como todos as demais pessoas e demais amores existentes, ditos da “maioria”.

Enfim, pensei em relatar isso porque você, antes de usar as mídias e as informações pessoais como plataformas da fama, posiciona-se trabalhando na contração de fofocas, mal-ditos e exposições desnecessárias. Foi um ato público, e por isso político, que enche de frescor e esperança a pessoas como eu, como você e como muitos, que acreditam em um mundo melhor, com uma cultura de paz para todas as pessoas.

Ainda que seja completamente desnecessário, pois acredito que seu intuito em nada tem a ver com essa expressão, digo: Obrigada!

(*) Cito dois vídeos porque, além do da entrevista, assistimos sua apresentação de Ylê, Pérola Negra”, uma vez que em seu trabalho tanto faz e fez pela música miscigenada, valorizando a beleza e o ritmo afro em nosso Brasil. 

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