Devaneios e Companhia
Um pouco do que vejo, ouço, leio, sinto e meus devaneios acerca disto tudo...
Nada aqui pretende ser "verdade". Devaneios são devaneios. SEJA BEM-VINDX
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Jovem, negra, pobre e analfabeta
Conheci Rosinha há aproximadamente 10 anos. Na época eu havia deixado o interior do estado de São Paulo e me mudado para a capital. Estava feliz por meu novo emprego, pela mudança de cidade y otras cositas más.
quinta-feira, 1 de janeiro de 2015
A comida da vovó (Gula) 2
Texto originalmente publicado em dezembro de 2009.
No interior do Paraná, em uma cidade que já não conheço ninguém e com o pé quebrado, um dos poucos prazeres que me restam é a gula...
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Posto de lado as consequencias, entrego-me ao meu segundo pecado capital preferido, fazendo desse período algo menos chato. E com a ajuda dos mimos familiares as coisas ficam bem mais fáceis. Ao menos quase sempre...
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Vamos ao causo:
Minha avó, 87 anos, veio me fazer a visitinha diária. Chegou toda faceira e contou:
“_Ah, Já, sabe o que fiz hoje pra janta? Banana verde!”
“_ Ai, que delícia! Trouxe um pouco pra mim, vó?”
“_Não, fia. Nem sabia que você gostava... Onde você comeu?”
“_Vó, claro que gosto! A senhora mesmo fez várias vezes... Até esses dias lá em Moçambique eu comentei que tava com vontade de comer!”
“_É? Hum... Achei que não fazia desde os tempos da Baixada da Areia...” - (Ou seja, há uns 20 anos atrás, no sítio onde ela morava e onde passei parte da infância)
“_ Ai, vó, claro que não!”
“_ Aaaah, fia, que pena que eu não trouxe. E e vô não pode trazer porque já tá descansando... Hoje levantou cedo pra carpir umas datas!”
“_Mas nem é pro vô trazer, tadinho! Amanhâ peço pro meu irmão ir buscar pro almoço!”
A vó vai embora.
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Cinco minutos depois chega o vô ,79 anos, trazendo a comida, dizendo que bom é comer no dia que fez! Todo bonitinho e feliz com o mimo que faz, deixa a comida na cozinha e diz que não vai ficar mais porque ta cansado!
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Passada uma hora, a fome chegou! Fui manquitolando até a cozinha procurar o meu jantar de comidinha-roceira-especial! Vi uma vasilha por cima do fogão, olhei: uma coisa gosmenta, não era aquilo! Nas panelas: arroz, feijão... Olhei no micro ondas: vazio! Talvez na geladeira: nem por isso!! Na falta de imaginação de onde mais procurar (na casa dos outros, só olhamos em lugares mais óbvios) perguntei:
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“_ Mãe, você viu onde o vô deixou meu abafadinho de mamão?”
“_ Mamão? Não é mamão, é banana!”
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Aaiiii... Péssima noticia! Na hora do anuncio da comida pela avó, meu desejo trocou as frutas...
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Constatei que a coisa gosmenta era o meu quitute: feito pela avó velhinha, trazido pelo avô cansado, que a neta teimou que gostava!
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O que mais eu poderia fazer além de enfrentar honradamente a situação? Esquentei a gogoroba, coloquei três colheres bem cheias no prato vazio (pra não estragar nada que entrasse em contato com ela), peguei uma fatia de pão e botei pra dentro. Tu-di-nho.
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Minha mãe, sentada na minha frente não acreditava no que via. Eu, bravamente comendo aquilo, como se estivesse em um treinamento pra combate ou numa prova de sobrevivência!
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Noutro dia a avó:
“_ Já, matou a vontade de comer a banana verde?”
“_ Ah sim, tava ótimo. Mas prefiro mesmo mamão!”
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Na boa, comer a sopa de banana era o que eu mandaria qualquer criança fazer, se ela estivesse em meu lugar.
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1) Refogado de mamão verde. Fonte da foto e receita, clique aqui.
2) Sopa de banana verde bacanuda. Fonte da foto e receita, clique aqui.
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Fonte da imagem da vovó: http://www.lnb.blog.br/wp-content/uploads/2009/07/vovo_cozinheira.jpg
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segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Janaínas e Iemanjás Musicais II
Semana passada fiz uma postagem, de cunho bastante afetivo, onde contava um pouco a descoberta dos significado do meu nome e as melodias que deram mais sentido a ele, com o passar dos anos.
Ocorre que muitas canções sobre Janaínas ficaram de fora. Alguns amigos e amigas chamaram atenção para o fato e expliquei que não foi mero esquecimento. De fato escolhi algumas naquele momento e deixo, hoje, aqui outras tantas.
CAMINHOS DO MAR (Dorival Caymmi)
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yamanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
O canto vinha de longe
De la do meio do mar
Não era canto de gente
Bonito de admirar
O corpo todo estremece
Muda cor do céu do luar
Um dia ela ainda aparece
É a rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Quem ouve desde menino
Aprende a acreditar
Que o vento sopra o destino
Pelos caminhos do mar
O pescador que conhece
as historias do lugar
morre de medo e vontade
de encontrar Yemanja
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
CANTO DE YEMANJÁ (Vinicius de Moraes/ Badem Powell)
Vem do luar no céu
vem do luar
no mar coberto de flor, meu bem
de Yemanjá
de Yemanjá a cantar o amor
e a se mirar
na lua triste no céu, meu bem
triste no mar
Se você quiser amar
se você quiser amor
vem comigo a Salvador
para ouvir Yemanjá
a cantar na maré que vai
e na maré que vem do fim
bem do fim do mar
bem mais além
Yemanjá, Yemanjá
Yemanjá é dona Janaína que vem
Yemanjá Yemanjá
Yemanjá é muita tristeza que vem
RAINHA DO MAR (Dorival Caymmi)
Minha sereia é rainha do mar
Minha sereia é rainha do mar
O canto dela faz admirar
O canto dela faz admirar
Minha sereia é moça bonita
Minha sereia é moça bonita
Nas ondas do mar
Aonde ela habita
Ai tem dó
De ver o meu penar
Ai tem dó
De ver o meu penar
CAMAFEU (Candeia)
Camafeu
Cadê Maria de São Pedro?
Foi passear
E os passeios de Maria fez a Bahia chorar
Maria foi lá pra longe
Maria não vai voltar
Mas deixou sua família
Pra seu nome cultuar
Lalá i lá, Lalá i lá
Lalá i lá, Lalá i lá
É Janaína
Janaína, Janaína
Janaína, Janaína
Camafeu cadê Mestre Pastinha?
Tá com oitenta pra lá
Ainda joga capoeira
Com quem tem vinte pra cá
E por onda de alaqueto
Não precisa perguntar
Encontrei com menininha
Perto do seu casuá
Lalá i lá, Lalá i lá
Lalá i lá, Lalá i lá
É Janaína
Janaína, Janaína
Janaína, Janaína
Camafeu, Camafeu cadê você?
Estou em todo lugar
Só vendendo bugigangas
No mercado popular
Se o mercado está fechado
Pego o barco e vou pescar
Samba no mar, Samba no mar
Samba no mar, Samba no mar
Samba no mar da Bahia
Samba no mar Engenho Velho
Samba no mar Manzurica
Samba no mar Edomarica
Samba no mar Mestre Branca
Samba no mar Corridó
Samba no mar Odilon
Samba no mar, Samba no mar
Samba no mar, Samba no mar
Samba no mar da Bahia...
JANAÍNA (Otto)
Disse um velho orixá pra Oxalá
Pra acreditar
Pra não temer, temer, temer
Desses tempos verdadeiros
Tempos maus
Dia 2 de fevereiro
Dia de Iemanjá
Vá pra perto do mar
Leve mimos pra sereira
Janaína Iemanjá
Pra perto do mar
Leve mimos pra sereia
Janaína Iemanjá
Havia rosas no mar
Havia ondas na areia
Lá em Rio Vermelho
Em Salvador
Vamos dançar
Dia 2 de fevereiro
Dia de Iemanjá
Leve mimos pra sereira
Janaína Iemanjá
Disse um velho orixá pra Oxalá
Pra não temer
Pra não temer
Dia 2 de fevereiro
Festa lá no Rio Vermelho
Em Salvador vamos dançar
Leve mimos pra sereia
Janaína Iemanjá
Havia rosas no mar
Havia ondas na areia
Vá brincar no Rio Vermelho
A festa de Iemanjá
Salvador está em festa
Vou cantar
Vou cantar, ah
Pra saudade sereia
Vai brincar na areia
Para acreditar
Pra saudade sereia
Vista de branco
Dia de lua cheia
JANAÍNA (Rubens Aredes)
Janaína da Barraginha é moça bonita
Morena dos Olhos claros levantava cedo todo dia
vinha trabalhar na feira voltava e se assentava
No sofá em frente à caixa, no sofá em frente à caixa
Queria conhecer seus ancestrais
Misturou guaraná
Com ayahuaska
Conheceu os segredos do pajé e do Babalaô
Janaína da barraginha é moça forte
Mulher da raça, da lata, do preto e da cachaça
Misturou catimbó com afoxé
E fez o Egum descer do Orum
Janaína fez descer Iaci
Índia do mato
Amante de brancos
Amar rada na castanheira
morta com frieza
Extinta por inocência
Janaína fez descer Ajê Xalugã
Cidadão livre do Quilombo dos Palmares
No sofá em frente à caixa
Ocorre que muitas canções sobre Janaínas ficaram de fora. Alguns amigos e amigas chamaram atenção para o fato e expliquei que não foi mero esquecimento. De fato escolhi algumas naquele momento e deixo, hoje, aqui outras tantas.
CAMINHOS DO MAR (Dorival Caymmi)
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yamanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
O canto vinha de longe
De la do meio do mar
Não era canto de gente
Bonito de admirar
O corpo todo estremece
Muda cor do céu do luar
Um dia ela ainda aparece
É a rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Quem ouve desde menino
Aprende a acreditar
Que o vento sopra o destino
Pelos caminhos do mar
O pescador que conhece
as historias do lugar
morre de medo e vontade
de encontrar Yemanja
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
Yemanja Odoiá Odoiá
Rainha do mar
CANTO DE YEMANJÁ (Vinicius de Moraes/ Badem Powell)
Vem do luar no céu
vem do luar
no mar coberto de flor, meu bem
de Yemanjá
de Yemanjá a cantar o amor
e a se mirar
na lua triste no céu, meu bem
triste no mar
Se você quiser amar
se você quiser amor
vem comigo a Salvador
para ouvir Yemanjá
a cantar na maré que vai
e na maré que vem do fim
bem do fim do mar
bem mais além
Yemanjá, Yemanjá
Yemanjá é dona Janaína que vem
Yemanjá Yemanjá
Yemanjá é muita tristeza que vem
RAINHA DO MAR (Dorival Caymmi)
Minha sereia é rainha do mar
Minha sereia é rainha do mar
O canto dela faz admirar
O canto dela faz admirar
Minha sereia é moça bonita
Minha sereia é moça bonita
Nas ondas do mar
Aonde ela habita
Ai tem dó
De ver o meu penar
Ai tem dó
De ver o meu penar
CAMAFEU (Candeia)
Camafeu
Cadê Maria de São Pedro?
Foi passear
E os passeios de Maria fez a Bahia chorar
Maria foi lá pra longe
Maria não vai voltar
Mas deixou sua família
Pra seu nome cultuar
Lalá i lá, Lalá i lá
Lalá i lá, Lalá i lá
É Janaína
Janaína, Janaína
Tá com oitenta pra lá
Ainda joga capoeira
Com quem tem vinte pra cá
E por onda de alaqueto
Não precisa perguntar
Encontrei com menininha
Perto do seu casuá
Lalá i lá, Lalá i lá
Lalá i lá, Lalá i lá
É Janaína
Janaína, Janaína
Camafeu, Camafeu cadê você?
Estou em todo lugar
Só vendendo bugigangas
No mercado popular
Se o mercado está fechado
Pego o barco e vou pescar
Samba no mar, Samba no mar
Samba no mar, Samba no mar
Samba no mar da Bahia
Samba no mar Engenho Velho
Samba no mar Manzurica
Samba no mar Edomarica
Samba no mar Mestre Branca
Samba no mar Corridó
Samba no mar Odilon
Samba no mar, Samba no mar
Samba no mar, Samba no mar
Samba no mar da Bahia...
JANAÍNA (Otto)
Disse um velho orixá pra Oxalá
Pra acreditar
Pra não temer, temer, temer
Desses tempos verdadeiros
Tempos maus
Dia 2 de fevereiro
Dia de Iemanjá
Vá pra perto do mar
Leve mimos pra sereira
Janaína Iemanjá
Pra perto do mar
Leve mimos pra sereia
Janaína Iemanjá
Havia rosas no mar
Havia ondas na areia
Lá em Rio Vermelho
Em Salvador
Vamos dançar
Dia 2 de fevereiro
Dia de Iemanjá
Leve mimos pra sereira
Janaína Iemanjá
Disse um velho orixá pra Oxalá
Pra não temer
Pra não temer
Dia 2 de fevereiro
Festa lá no Rio Vermelho
Em Salvador vamos dançar
Leve mimos pra sereia
Janaína Iemanjá
Havia rosas no mar
Havia ondas na areia
Vá brincar no Rio Vermelho
A festa de Iemanjá
Salvador está em festa
Vou cantar
Vou cantar, ah
Pra saudade sereia
Vai brincar na areia
Para acreditar
Pra saudade sereia
Vista de branco
Dia de lua cheia
JANAÍNA (Rubens Aredes)
Janaína da Barraginha é moça bonita
Morena dos Olhos claros levantava cedo todo dia
vinha trabalhar na feira voltava e se assentava
No sofá em frente à caixa, no sofá em frente à caixa
Queria conhecer seus ancestrais
Misturou guaraná
Com ayahuaska
Conheceu os segredos do pajé e do Babalaô
Janaína da barraginha é moça forte
Mulher da raça, da lata, do preto e da cachaça
Misturou catimbó com afoxé
E fez o Egum descer do Orum
Janaína fez descer Iaci
Índia do mato
Amante de brancos
Amar rada na castanheira
morta com frieza
Extinta por inocência
Janaína fez descer Ajê Xalugã
Cidadão livre do Quilombo dos Palmares
No sofá em frente à caixa
JANAÍNA(Biquine Cavadão)
Janaína acorda todo dia às quatro e meia
E já na hora de ir pra cama, janaina pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu
Janaína é passageira
Passa as horas do seu dia em trens lotados
Filas de supermercados, bancos e repartições
Que repartem sua vida
Mas ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Se deus quiser.....
Janaína é beleza de gestos, abraços,
Mãos, dedos, anéis e labios
Dentes e sorriso solto
Que escapam do seu rosto
Janaína é só lembrança de amores guardados
Hoje é apenas mais uma pessoa
Que tem medo do futuro- que aconteceu? -
Se alimenta do passado
Mas ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Mas ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Já não imagina
Quantos anos tem
Já na iminência
De outro aniversário
Janaína acorda todo dia às quatro e meia
Já na hora de ir pra cama, Janaína pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu
Janaína Argentina (Jorge Ben Jor)
Lá vem Janaína argentina
Por isso quando ela passar
Ninguém mexe que tem dono
Está comigo
Pode olhar, mas sem tocar
Por isso quando ela passar
Ninguém mexe que tem dono
Está comigo
Pode olhar mas sem tocar
Janaína Argentina
Mulher, doce menina
Mimosa, cheirosa, bonita e gostosa,
O perigo a flor da pele
Um prazer constante,
uma aventura, uma aposta deliciante
Por isso quando ela passar
Ninguém mexe que tem dono
Está comigo
Pode olhar mas sem tocar
Janaína argentina
Mulher, doce menina
Deixa ela desfilar
Deixa ela jogar
Deixa ela se soltar
Deixa ela brincar
Deixa ela passear
Deixa ela viajar
Deixa ela ser feliz
Deixa ela dançar
Deixa ela me amar
Imagem disponível em: www.cozinhaafetiva.com.br
Janaína acorda todo dia às quatro e meia
E já na hora de ir pra cama, janaina pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu
Janaína é passageira
Passa as horas do seu dia em trens lotados
Filas de supermercados, bancos e repartições
Que repartem sua vida
Mas ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Se deus quiser.....
Janaína é beleza de gestos, abraços,
Mãos, dedos, anéis e labios
Dentes e sorriso solto
Que escapam do seu rosto
Janaína é só lembrança de amores guardados
Hoje é apenas mais uma pessoa
Que tem medo do futuro- que aconteceu? -
Se alimenta do passado
Mas ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Mas ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Já não imagina
Quantos anos tem
Já na iminência
De outro aniversário
Janaína acorda todo dia às quatro e meia
Já na hora de ir pra cama, Janaína pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu
Janaína Argentina (Jorge Ben Jor)
Lá vem Janaína argentina
Por isso quando ela passar
Ninguém mexe que tem dono
Está comigo
Pode olhar, mas sem tocar
Por isso quando ela passar
Ninguém mexe que tem dono
Está comigo
Pode olhar mas sem tocar
Janaína Argentina
Mulher, doce menina
Mimosa, cheirosa, bonita e gostosa,
O perigo a flor da pele
Um prazer constante,
uma aventura, uma aposta deliciante
Por isso quando ela passar
Ninguém mexe que tem dono
Está comigo
Pode olhar mas sem tocar
Janaína argentina
Mulher, doce menina
Deixa ela desfilar
Deixa ela jogar
Deixa ela se soltar
Deixa ela brincar
Deixa ela passear
Deixa ela viajar
Deixa ela ser feliz
Deixa ela dançar
Deixa ela me amar
Imagem disponível em: www.cozinhaafetiva.com.br
terça-feira, 29 de julho de 2014
Janaínas e Iemanjás Musicais
Costumo dizer que uma das vantagens de se chamar Janaína é a boa quantidade de música com essa referência. Refiro-me especificamente à MPB- Música Popular Brasileira e sua vizinhança.
Quando criança, Tio Negão nos encantava nas noites da roça. Em baixo da Pata-de-vaca (Bauhinia variegata), iluminada pela luz da lua ou da casa mais a frente, nosso tio avô nos contava seus causos para fazer rir ou sentir medo. E entre uma coisa e outra, as vezes me dizia assim: “_Sabia que Janaína é o nome de uma sereia negra?”
Sim, eu sabia porque ele já havia me falado outras tantas vezes. E nesta única frase cabia muita coisa. Cabia sereia, cabia negra, cabia saber. Não precisava prosseguir com mais detalhes. Nunca fez falta que não contasse mais sobre “minha sereia”. Tudo já estava lá para minha imaginação.
Quando cresci e meu repertório musical se ampliou para além das deliciosas cantigas infantis e modas de viola de casa, soube também que a tal sereia era Yemanjá, um importante Orixá das religiões de matrizes africanas no Brasil.
Já na faculdade, havia um professor, José Augusto Pontes, que anunciou na aula inaugural que dali pra frente, toda vez que chegasse a sala, contaria o significado do nome de dois alunos. "_Iemanjá: Rainha do mar, protetora das mães e das esposas". Foi assim que ele fez saber a mim e à turma sobre Janaína.
...
A vontade de escrever esta post foi conhecer Kirsten, uma querida-recém-apresentada-a-mim pelo amado Alê d'Ilê, durante nosso último passeio à Porecatu. Ela me disse que há anos atrás chamou sua filha por Janaína após ver este nome escrito em um ônibus no norte do país, lá pelas terras da Amazônia e suas águas. Penso que é um presente imaterial. Gosto assim.
Por aqui, deixo algumas letras, vozes e "vídeos para ouvir", já que alguns são mesmo compostos estritamente por áudios. Apenas? Não, Música nunca é "apenas".
Você pode ler e ouvir outras Janaínas em http://devaneiosecompanhia.blogspot.com.br/2014/08/janainas-e-iemanjas-musicais-ii.html
Qual é seu dia
Nossa Senhora?
É dia dois de fevereiro
Quando na beira da praia
Eu vou me abençoar
O que ela canta?
Por que ela chora?
Só canta cantiga bonita
Chora quando fica aflita
Se você chorar
Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Pescador e marinheiro
Que escuta a sereia cantar
É com o povo que é praieiro
Que dona Iemanjá quer se casar
Quando criança, Tio Negão nos encantava nas noites da roça. Em baixo da Pata-de-vaca (Bauhinia variegata), iluminada pela luz da lua ou da casa mais a frente, nosso tio avô nos contava seus causos para fazer rir ou sentir medo. E entre uma coisa e outra, as vezes me dizia assim: “_Sabia que Janaína é o nome de uma sereia negra?”
Sim, eu sabia porque ele já havia me falado outras tantas vezes. E nesta única frase cabia muita coisa. Cabia sereia, cabia negra, cabia saber. Não precisava prosseguir com mais detalhes. Nunca fez falta que não contasse mais sobre “minha sereia”. Tudo já estava lá para minha imaginação.
Quando cresci e meu repertório musical se ampliou para além das deliciosas cantigas infantis e modas de viola de casa, soube também que a tal sereia era Yemanjá, um importante Orixá das religiões de matrizes africanas no Brasil.
Já na faculdade, havia um professor, José Augusto Pontes, que anunciou na aula inaugural que dali pra frente, toda vez que chegasse a sala, contaria o significado do nome de dois alunos. "_Iemanjá: Rainha do mar, protetora das mães e das esposas". Foi assim que ele fez saber a mim e à turma sobre Janaína.
...
A vontade de escrever esta post foi conhecer Kirsten, uma querida-recém-apresentada-a-mim pelo amado Alê d'Ilê, durante nosso último passeio à Porecatu. Ela me disse que há anos atrás chamou sua filha por Janaína após ver este nome escrito em um ônibus no norte do país, lá pelas terras da Amazônia e suas águas. Penso que é um presente imaterial. Gosto assim.
Por aqui, deixo algumas letras, vozes e "vídeos para ouvir", já que alguns são mesmo compostos estritamente por áudios. Apenas? Não, Música nunca é "apenas".
Você pode ler e ouvir outras Janaínas em http://devaneiosecompanhia.blogspot.com.br/2014/08/janainas-e-iemanjas-musicais-ii.html
QUEM VEM PRA BEIRA DO MAR (Dorival Caymmi)
Quem vem pra beira do mar, ai
Nunca mais quer voltar, ai
Quem vem pra beira do mar, ai
Nunca mais quer voltar
Andei por andar, andei
E todo caminho deu no mar
Andei pelo mar, andei
Nas águas de Dona Janaína
A onda do mar leva
A onda do mar traz
Quem vem pra beira da praia, meu bem
Nunca mais quer voltar
BANZO (Itamar Assumpção)
Às margens do rio Sena
Me lembro do Amazonas
Da minha raça morena
Bordunas e pés de cana
Das procissões das novenas
Das praias com sua dunas
Penha, Vila Madalena
Dos Paiakans, dos Jurunas
Lembro Xangô, Janaína
Tupã, Roraima, Itabuna
Dos Brancos cá Caraíbas
Paris me lembra Criciúma
Porto Alegre, tri Curitiba
Gurias Loiras, morenas
Me lembra rio Paraíba
Pará,Paraná, Paranapanema
Aqui e lá há Lagunas
Mas não há lá Iracemas
Mas lembro que a cobra fuma
Na França ou Ipanema
Remember da minha tchurma
Piquet, Fittipaldi e Senna
São Paulo, usina de Furnas
Umãpe xe raperana*
*onde será o meu caminho? (tupi)
MINHA SEREIA (Joyce)
Ela vinha como um sol
Tão bonita de se olhar
Me pegava a mão
Dizia: Não tema não
Ela me ensinava a nadar
E eu ali naquele azul
Sem saber como explicar
Fui bem fundo lá
Que nem dá pra imaginar
Sempre me deixando levar
Me ensina a fazer renda, sereia
Me ensina a namorar
Me guarda em tua saia
Que eu quero na praia me molhar
Minha mãe falou pra mim
Meu menino, o que é que há
Que nem dorme mais
Que é que faz pra te agradar
Que você só fica a delirar
Ó mãe eu estou pensando na vida
Pensando em me casar
Casar com uma sereia
Iara, Janaína, Iemanjá
Só que quando dei por mim
Ela já não estava lá
Me acenou adeus, mergulhou, partiu com os seus
Foi morar no fundo do mar
LENDA DAS SEREIAS (Vicente / Dionel / Veloso)
Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá
Oloxum, Ynaê
Janaina e Yemanjá
São rainhas do mar
Mar, misterioso mar
Que vem do horizonte
É o berço das sereias
Lendário e fascinante
Olha o canto da sereia
Ialaó, oquê, ialoá
Em noite de lua cheia
Ouço a sereia cantar
E o luar sorrindo
Então se encanta
Com as doces melodias
Os madrigais vão despertar
Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz, ela semeia
Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz, ela semeia
Toda a corte engalanada
Transformando o mar em flor
Vê o Império enamorado
Chegar à morada do amor
Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá
Oloxum, Ynaê
Janaina e Yemanjá
São rainhas do mar
IEMANJÁ RAINHA DO MAR (Pedro Amorim)
Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Dandalunda, Janaína
Marabô, Princesa de Aiocá
Inaê, Sereia, Mucunã
Maria, Dona Iemanjá
Onde ela vive?
Onde ela mora?
Nas águas
Na loca de pedra
Num palácio encantado
No fundo do mar
O que ela gosta?
O que ela adora?
Perfume
Flor, espelho e pente
Toda sorte de presente
Pra ela se enfeitar
Como se saúda a Rainha do Mar?
Como se saúda a Rainha do Mar?
Alodê, Odofiaba
Minha-mãe, Mãe-d'água
Odoyá!
Nossa Senhora?
É dia dois de fevereiro
Quando na beira da praia
Eu vou me abençoar
O que ela canta?
Por que ela chora?
Só canta cantiga bonita
Chora quando fica aflita
Se você chorar
Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Pescador e marinheiro
Que escuta a sereia cantar
É com o povo que é praieiro
Que dona Iemanjá quer se casar
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Guarujá, a praia e o lixo
Não trabalho na mesma cidade onde
moro, assim, este é um diálogo que acontece ao menos uma vez na semana durante
o verão:
_Onde você mora?
_No Guarujá.
_Nossa, que bacana! Você deve curtir
muito a praia com esse calor.
_ Errr... Às vezes... _ e tento cortar o assunto por aqui.
Isso porque,
durante a temporada, o Guarujá se assemelha a uma grande lata de lixo. E isso
não é nenhum exagero.
Moro por aqui há
quase três anos. E o lugar que tantos conhecem (conheciam?) pelas belezas
naturais, hoje se destaca devido à sujeira.
Em um domingo de
manhã, do verão de 2013, aconteceu de eu ir caminhar com as cachorras na orla
da Enseada. Após dois quarteirões pela calçada à beira mar voltamos pra casa. O
lixo jogado pelo chão era tanto, que dava nojo de continuar. Não se passeia em lixões.
Quando muito, trabalha-se, em um serviço penoso. O cheiro podre, sacolas voando
e urubus espreitando não me pareceram uma boa maneira de começar o dia de folga.
Nesta temporada a
tragédia se repete. Várias foram as matérias que retrataram a situação das
praias: Imundas. Com títulos bem ilustrativos tivemos “Crianças brincam
perto do lixo em
praia do Guarujá” no
Estadão; “Banhista disputa lugar com lixo
nas areias de Guarujá” na Folha SP e “Lixo
acumulado fica preso em pedras de ilha em Guarujá” no G1, para citar alguns.
Não é implicância minha.
A prefeitura
respondeu nas reportagens que o lixo é recolhido uma vez ao dia e que varrem a
praia por três vezes. Diante da situação, obviamente é pouco. E há anos!
O lixo dos
quiosques são colocados em sacos plásticos e depositados no passeio junto à
Avenida Miguel Estéfno. Sorte dos cachorros que vivem na rua, que não tem
nenhuma dificuldade para rasgar os recipientes para se alimentar. Todavia, consequentemente,
espalharam a sujeira pela calçada. Lixeiras suspensas seria uma solução bem
simples.
Onde
descartar uma lata de refrigerante, um palito de sorvete ou um recipiente de
batatas fritas? Nas lixeiras azuis que existem na calçada beirando à avenida. Sim,
elas existem, só que muito pequenas para a demanda dos passantes e muito longe
de quem curte um banho de mar ou sol. Sem latões os banhistas descartam tudo na
areia da praia. Também atitude recorrente dos atendentes de quiosques que, ao
limpar as mesas, jogam canudos, guardanapos e outras miudezas no chão.
Apenas latas de
alumínio não sobram na areia. Pessoas passam para recolhê-las, fazer uma renda
e, quiçá, tomar o que sobrou de cerveja. Mesmo prestando este serviço indireto à
comunidade, homens e mulheres que recolhem latas são tratadxs de maneira
vergonhosa: xs freqüentadorxs da praia
atiram as latas na areia, para que sejam pegas. Qual a grande dificuldade de
entregar as mesmas, mão na mão, quando xs catadorxs passam?
Ontem, ao
entardecer, caminhava pela orla da Enseada. Fiz o registro das imagens dessas
imagens porque é impossível fingir que isto não acontece. Em breve o mar
subiria e varreria tudo aquilo para dentro de si.
Não posso
dizer que não existem bons momentos. Ontem a única felicidade foi encontrar o
grupo “Percutindo Mundos” se apresentando na orla. A banda é caiçara e,
entre tantos sons, também cantou e dançou o mar. Mar que à esquerda do palco
agonizava pelo mau uso.
O que se vê no
Guarujá é a pouca infraestrutura que o local tem para receber a população
flutuante que gira em 1,5 milhão ano. Já a população fixa, soma 290 mil
habitantes.
Claro que turismo pode ser bom. Ma isso desde que o lugar
eduque o turista e dê condições para que parte da população local viva do
turismo e, a outra parte, sobreviva com dignidade apesar do turismo.
O lixo não é a
única questão. Por aqui parece não existir leis de trânsito e de silêncio
noturno na temporada. Ah, também presume-se que xs moradorxs sejam MUITO ricxs , dados os preços
exorbitantes de janeiro à janeiro. Mas isso já é conversa para outra postagem.
LINKS PARA COISAS QUE CITEI:
Percutindo
Mundos: http://percutindomundos.blogspot.com.br
Estadão, M.R., Crianças brincam
perto do lixo em praia do Guarujá: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,criancas-brincam-perto-do-lixo-em-praia-do-guaruja,1114805,0.htm
Folha de São Paulo, Fabrício
Lobel: Banhista
disputa lugar com lixo nas areias de Guarujá, no litoral de SP: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/01/1397332-banhista-disputa-lugar-com-lixo-nas-areias-do-guaruja-no-litoral-de-sp.shtml
G1 Santos, Aldo
de Aguiar Falleiros: Lixo acumulado fica
preso em pedras de ilha em Guarujá, no litoral de SP: http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/vc-no-g1-tv-tribuna/noticia/2013/12/lixo-acumulado-fica-preso-em-pedras-de-ilha-em-guaruja-no-litoral-de-sp.html
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
O "T" da Questão
O "T" da Questão (Visibilidade Trans)
Embora a comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) tenha conquistado mais visibilidade e respeito nos últimos anos, as pessoas trans (principalmente as travestis, mulheres transexuais e outras que expressam uma identidade de gênero feminina) continuam enfrentando o desrespeito cotidiano de direitos tão básicos como o de serem chamadxs pelo nome que escolheram para si e utilizarem espaços (como banheiros) destinados ao gênero com o qual se identificam. Tal desrespeito, somado a violências ainda mais explícitas, afasta muitas destas pessoas da família, da escola e do mercado formal de trabalho.
Porém a população trans brasileira dá continuidade com cada vez mais força a uma luta iniciada há décadas e batalha pelo respeito ao direito de cada pessoa ter respeitado seu direito de autodeterminação, sem ser patologizada, discriminada ou agredida por não expressar seu gênero da forma como a sociedade dominante decidiu ser a mais adequada.
Na semana do 29 de Janeiro, Dia Nacional da Visibilidade Trans, nos perguntamos: Qual é o "T" da questão? Para nos responder o Coletivo Contra Maré convida para um debate com:
- Daniela Andrade: responsável pelo blog www.alegriafalhada.blogspot.com , co-responsável pela página Transexualismo da Depressão, colaboradora no site www.bulevoador.com.br e co-criadora do site Transempregos, que conecta profissionais trans a empresas que querem contratá-lxs;
- Hailey Kaas: responsável pelo blog www.generoaderiva.wordpress.com e co-responsável pelo site www.transfeminismo.com;
- Léo Moreira Sá: ator, iluminador, músico, protagonista da peça de teatro "Lou & Leo", que conta sua jornada enquanto homem transgênero, e diretor-fundador da Associação Brasileira de Homens Trans.
DEBATE: Visibilidade Trans- O T da Questão
Dia: 01/02/2014 (sábado)
Horário: 18h
Local: Associação Cultural José Martí
Endereço: Rua Joaquim Távora, 217. Vila Mathias. Santos - SP
O evento é organizado pelo Coletivo Contra Maré, um movimento social na luta contra a homo/lesbo/bi/transfobia e toda e qualquer forma de opressão. Através de atividades de formação, debates, articulações e outros baphos mais, lutamos pela diversidade sexual e liberdade de identidade de gênero. Um bando de bicha, bi, sapatão e trans (e o baile todo) afim de fazer revolução, remando contra a maré de opressão da heterosexualidade como regime político/econômico/social.
Curta Coletivo Contra Maré no Facebook e some conosco! https://www.facebook.com/col.contramare?ref=ts&fref=ts
Página do evento no face: https://www.facebook.com/events/186668094875921/?fref=ts
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Para que um 29 de janeiro¹?
Melhor que ler é viver, ouvir, ver, estar.
Mas como muitos não estavam, escrevendo empresto meus olhos, ouvidos e alguns pensamentos:
Era por volta das 22h do dia 27 de novembro de 2013. Acabava
de ocorrer a histórica posse do Conselho Estadual dos Direitos da População de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais do Estado de São Paulo.
Histórica porque foi a primeira, com direito a eleições
diretas, regionalizadas e por seguimento. Mas o que presenciaríamos a seguir,
se não histórico, era, ao menos, inacreditável naquele contexto.
Saindo da câmara municipal de São Paulo, após o coquetel da
posse, as pessoas se aglomeravam em frente ao prédio para trocar suas últimas impressões
sobre o evento, combinar carona para o lugar de origem e outras miudezas. Eis
que em meio ao zumzumzum ouve-se gritos. E choro.
Caminhei em direção à confusão. Abro espaço e passo. Queria verificar o que estava acontecendo. E quando vi, ouvi, senti a cena, levei alguns
segundos para acreditar:
Na calçada estavam dois conselheiros recém empossados. Eles
em pé, cabeça erguida, gritavam com uma jovem trans, apontavam para ela.
Ela, acuada, cabisbaixa, sentada na floreira que enfeita as
grades da “casa do conselho” de antigamente, ou da “casa do povo” dos atuais
otimistas. Chorava.
O gênero masculino acusava. O gênero feminino calava.
Como não intervir?
_Ela é louca _dizia “um”².
_Uma viciada _ dizia “outro”.
Argumentei que aquilo era violência. Pedi que parassem de
gritar. Que aquela cena era absurda, que a moça estava sendo constrangida, acusada
e ofendida. Que aquela exposição era desnecessária...
_Eu só estou pedindo para que parem de gritar! _ falei.
_Você não a conhece, é uma viciada em hormônios. Saiu e foi
ali comprar_ dizia “outro” apontando para o lado oposto da rua.
_Se você quiser eu mando o prontuário dela pro seu email _
falou “um”_ aí você vai conhecer toda a história dela.
_Quando eu quiser saber da história dela, quem me contará
será ela e não vocês, que gritam ao quatro ventos ou propõem emails com
prontuário alheio_ respondi, pensando que acesso era aquele que “um” tem a
prontuários...
_Está vendo “um”_ disse "outro" se dirigindo ao amigo_ essa aí só quer saber de "clinicar", não
se interessa em saber o que acontece com as pessoas, não quer saber de nada e
fica se intrometendo!
Incrédula, me afastei. Não havia possibilidade de interlocução...
E os gritos se transformaram em vozes altas e foram se dispersando as declarações absurdas, no meio
do Viaduto Jacareí, nº 100, da cidade de São Paulo.
Naquela noite, eu e outras tantas pessoas, fomos
violentadas. Tanto quem teve sua história (?) espalhada para estranhxs quanto quem foi submetidx a essa cena de violência. Violência psicológica
devido ao constrangimento e humilhação. Violência moral devido a difamação.
A reunião na câmara, que era para ser apenas de comemoração ao
nascimento de um conselho de direitos, foi cenário da exposição da vida íntima
de uma pessoa. Pessoa esta que pertence a uma das populações mais vulneráveis
que temos notícia na atualidade: a população de travestis e transexuais. Afinal, eu que nunca troquei meia palavra com
aquela moça, hoje, tenho idéias, verdadeiras ou não, de que ela ainda é uma
adolescente, tomava hormônios de 4 em 4 horas, está sob a guarda do Estado e um
dia foi “ajudada” por aqueles que estavam a ofendendo.
No dia 27 de novembro de 2013, também tivemos uma
demonstração do machismo vigente no seio na comunidade LGBT: dois homens do
gênero masculino violentaram uma trans do gênero feminino em público.
Relato o que vi, mas eu não estava sozinha!
Infelizmente coisas assim vão continuar acontecendo enquanto
os homens gays e bi não enxergarem que o que alimenta a homofobia é o machismo;
enquanto xs machistas não perceberem que o machismo também xs oprime; enquanto
xs oprimidxs não descobrirem que elxs é que dão poder ao opressor; enquanto as pessoas
não perceberem que somos todxs iguais, apesar deste sistema que ensina que umas
pessoas são melhores que as outras, que tudo é uma questão de “mérito”, de
“escolha”, de “sorte”, de “destino”, ou
seja lá o que for que tira a responsabilidade coletiva (minha, sua e deles) dos
rumos que as pessoas e a nossa sociedade toma.
Não sou otimista. Creio que a humanidade não deu certo, e
nem dará! Mas podemos lutar para ter alguns bons exemplos de exceção, que
obviamente serão para confirmar a regra anterior.
Devaneios? Companhia?
...
Devaneios? Companhia?
...
(1) Dia da Visibilidade Trans
(2) Não cito nomes porque esta postagem deseja gerar reflexão e não fazer uma denúncia. No mais, como já diz o subtítulo do blog devaneios são devaneios...
(2) Não cito nomes porque esta postagem deseja gerar reflexão e não fazer uma denúncia. No mais, como já diz o subtítulo do blog devaneios são devaneios...
(3) No outro dia pela manhã fiquei sabendo por outras moças
trans que o “um” foi chamado durante a cerimônia de posse porque a garota estava trancada no banheiro e ameaçava se matar, saltando da janela d prédio.
Inúmeras pessoas já haviam tentado em vão que ela abrisse a porta de onde
estava. Contaram-me ainda que “um” chegou na porta do banheiro, fez-lhe uma ameaça
e ela imediatamente abriu a tal porta. Essa parte eu não (ou)vi, apenas ouvi
dizer. Porém, seja lá como for, uma pessoa que está ameaçando se matar durante
a posse de um conselho de direitos está de fato em sofrimento e pedindo ajuda.
Não é motivo sequer para usarmos a palavra “incômodo”, quem dirá motivo para
violenta-la ainda mais, no privado ou no público.
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