Hoje estou fechando um ciclo.
Conto que há dez anos atrás, quando eu era aprimoranda de psicologia clínica em psiquiatria, fazia trufas para ajudar no sustento do dia-a-dia.Período difícil aquele. Quando se findou, também findaram-se esses fazeres . Lembro, inclusive, de minha terapeuta da época fazendo paralelos com o filme Chocolate: essas coisas de descobrir desejos escondidos, propiciar prazeres, etc. Nem a poesia interpretativa sustentou a continuidade da atividade.
Oito anos já se passaram desde o cessar deste labor paralelo. Após chantagens emocionais e/ou pedidos carinhosos, em 2010 prometi prxs amadxs que esse ano (re)conheceriam minha trufas. Isso que era quase lenda contada por familiares e amigxs de longa data. Isso que me lembra um período que o R$1,00 era bastante. E poupado, administrado, ganho por cada bocado de prazer vendido às pessoas chocofílicas.
Domingo: rememorar receita. Segunda: comprar ingredientes. Terça: picar e fazer a mistura. Quarta: enrolar, moldar, descobir. Hoje, quinta: banhar-maria e ver cascas frágeis surgindo para envolver a essência. Tudo pronto. Tudo à mesa. Secando e preenchendo a casa com o odor característico.
Também posso contar a outra maneira.
Domingo: rever receita com uma querida. Ouvir a voz da (não minha) professora de educação artística e fazedeira de trufas, doces de figo e cuidados (para mim) sem fim.
Segunda: andar pela cidade, descobrindo lugares para comprar coisas antes compradas em cidades distantes. Alarmar-me com os setenta por cento da alta dos preços em oito anos. Confortar-me que isso já não me importa.
Terça: dolorir a mão com a faca que corta o tijolo marrom. Recordar a força do braço e da canseira da mistura. Querer a amiga que vendia roupas em busca dos reais que também lhe faltavam. Sabe-la me ensinando a apreciar a tal trufa com café.
Quarta: dar pequenas porções às amadas que dividem a vida-casa comigo. Ensinar o jeito de moldar as porções. Criar expectativas do gosto completo por vir. Chorar porque a mãe ligou e delicadamente colocou uma música de quando eu pequenina.
Quinta: mais marias ao banho, e último, por fim. Pós sequinhas, ensacar em trabalho a quatro mãos. Conjugar o acompanhar sincero.
E foi assim que tudo se (re)fez. Trabalho não para lucros em Reai$, apenas para presentes reais.
Agora, enquanto escrevo, conto que ainda não tive coragem de provar o resultado concreto desse tal resignificar. Farei isso logo depois que postar.
Fonte das imagens: a cozinha aqui de casa.
7 comentários:
lindo! deliciosamente lindo!
Ahhhhhhhhh!!! Eu q sei.... me deliciei muuuuiiittoooooo com essas maravilhas..... Ali a mão....dentro da geladeira.... Delícia!!! ... Com essas maravilhas curei TPM, dores de cutuvelo, loucos desejos, ect... rsrsrs Saudades meu Amorzinho!!!
Resignificar, minha palavra da vez! Tá lindo o post... parabéns pela Páscoa resignificada. Bjo.
Bom, lembrar das trufas necessariamente me faz lembrar de outras coisas... do refeitório (escroto, diga-se de passagem)do HC e suas MARAVILHOSAS refeições que, graças a você, podiam ser seguidas de um adoçamento de expectativas... assim como do nosso passeio no carro da roupa suja, das nossas pequenas "disputas" de poder psiquiatra x psicóloga, mas fundamentalmente de ter uma amiga sempre por perto pra poder desabafar e comer um chocolatinho... te amo, gatinha, e sinto muita saudade de tudo, de você, do Fernando, e da Famema, ainda que você não prefira Marília a Assis...
Quase não pude terminar de ler, pois me emocionei quando vc disse"tempos difíceis aqueles..." e vc talvez não saiba da exatidão das dificuldades daquela época. Oito anos sem aumento de salário e fazendo de tudo para dar a vc e seus irmãos uma boa educação.Mais difícil ainda saber que vc entrava madrugada para fazê-las. Um misto de tristeza e orgulho: tristeza por não poder lhe proporcionar tudo que eu sonhava, uma vida sem esse tipo de sacrifício: orgulho por vc perceber as nossas dificuldades e se dispor a colaborar.Essa é a Minha Filha.
Queridas, obrigada pelo carinho imenso! Queria ter doces o suficiente (e que eles tivessem asinhas) para chegar até cada uma de vocês.
Mamis, penso que você pode me dar tudo o que sonhava: provavelmente sonhou com alguém como vocês, que ao invés de reclamar, faz alguma coisa. Vocês fizeram um ótimo trabalho :) OBRIGADA.
AMO VOCÊS!
Jana... só agora vi esse doce recadinho..., rsrsrs, mas como você conhece essa minha rapidez, vou agradecer mesmo que atrasadinha, rsrs. Essas suas mãos sempre oferecendo doçura, e olha que naquela época precisávamos mesmo de muito carinho e docinho pra alegrar a vida... Devia ter aproveitado mais as trufas, rsrs. Ahhhh!!! Me deu uma vontade de comer o bolo com recheio de trufa.
Saudades...
Uma beijoca estralada, sabor chocolate e um abraço bem apertado.
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