Resolvi escrever algo sobre esse lado musical de minha vida. Lado
musical em que Daniela está, acompanhada de Gil, Chico, Caetano, Verônica,
Joyce e Zélia... Amo música, embora não tenha nenhum talento musical. Concordo com
Nietsche que disse que “Sem música a vida seria um erro”.
Sou psicóloga. Também feminista , ativista, e acredito em um mundo
melhor para todas e todos. Com justiça social, menor desigualdade entre os
povos... um mundo onde uma pessoa valha tanto quanto outra pessoa, independente
de origem, raça, sexo, credo, classe social, deficiências, idade...
Se em minha vida de profissional/militante sou conhecida pelas minhas
bandeiras, já o gosto pela música apenas os mais queridos compartilham...
O gosto por música seria o meu “lado B”, que pode ser o menos publico,
mas me compõe e é tão importante quanto o lado que todos conhecem.
Janaína
Leslão
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"Meus olhos arregalados não piscam pra qualquer um, nem fecham pra qualquer medo (Marta Medeiros)
Não, não sou
tiete... Mas sou fã, e há tempos perdi a vergonha de, entre tantas outras
coisas, dizer que gosto de Daniela Mercury. O Brasil (ou o sul/sudeste?) é
assim: o que tem de generosidade também tem de preconceito, e a música baiana,
da baiana, causa nariz-torto a muitos que não encontram nela seu espelho, como
Narciso, cantado por Caetano.
Aos 15, morava eu
no “interior-do-interior” o Paraná. Uma vez a cada um ou dois anos, meus pais
reuniam os 3 filhos em um fusca bordô e viajávamos 606km até a praia. Houve um
verão que a trilha sonora da viagem foi ao timbre de Daniela. No rádio do
fusca, tocando em fita K7, lá íamos nós, felizes, embalados pelo
Canto da Cidade. Foi a primeira trilha, entre tantas com essa voz.
Correu o tempo, e
aos 18 morava longe de casa, para estudar psicologia. Mudei de estado, e em
meio a tantas novas experiências, o primeiro grande show que assisti foi de
Daniela. Despretensiosamente caminhava pela feira agropecuária de Assis com
amigos recém-feitos, quando avistei o palco iluminando a noite. Como cantora, a
baiana também surpreendia como bailarina. Somava-se perfeitamente aos demais
profissionais em seu palco. Eram poesia para os olhos. Feijão com arroz, o
negro e o branco, o nordeste no sudeste, o sorriso em minha boca e a luz nos
olhos meus.
Seguindo os anos,
aos 22, com os primeiro período de estudos cumpridos. E cantarolando “se
oriente rapaz, onde vai ser seu curso de pós-graduação”, pensando em Gil, não
dava pra suspender a viagem. Queria ainda dar a volta no mundo, para vê-lo
girar...
Profissionalmente, tudo daria certo, porque “tinha” que dar, custasse o
que custasse.
Sentimentalmente, havia muitas dúvidas... o tal "certo" era absolutamente intangível...
Seguia, como mutante, no fundo sempre sozinha. Romântica me perguntava se conseguiria a alegria
dar a mão a alguém (ao estilo Clarice). Para a composição de cores e
sentimentos de meu coração miscigenado, o alívio era rascunhar versos, como
estes:
“Vi. Vejas!
Tens cabelos negros.
Negro óleo
Precioso
Negra noite
Sedutora
Negro gato
Traiçoeiro
Negra cor
Enigmática
Negro pássaro
Migrador
Negra magia
Feiticeira.
E também
Negros olhos
Que negam
Ver os meus
Verdes
De esperança.”
(Toda Cor)
Voltando as
(c)idades que se seguiram, um amor que “Pra toda vida” chegou à minha, na voz
do Barão Vermelho, como o tal amor gostava. Manaus, foi o cenário desta chegada. Inicialmente resisti,
porque meu plano era deixar ela pensar o que quisesse mas, engano meu pensar
que fosse brincadeira, aconteceu de ser assim
dessa maneira. E os planos do destino
foram gravados em um CD que dei ao amor de presente, tempos depois, já estando em cidade e
idade diferentes: São Paulo, aos 25 anos.
A vida seguiu seu
curso. Não pulei do alto da torre por ninguém, mas fui ver uma espécie de balé
mulato do outro lado do mundo. Moçambique nos esperava, e o som de Daniela que
tocava em meu fone de ouvido dizia: “espere amor, que estou chegando, depois do
inverno, a vida em cores”.
Nesta temporada em
Moçambique pude conhecer outras cores, flores, sons, movimentos. Movimentos
inclusive que reconheci no show teletransmitido, direto do Farol da Barra, no
dia 01 de janeiro de 2013. O som e dança que (ou)vi em Maputo foi a marrabenta.
Inspirações pra sua performance sempre na mistura desses continentes, pro
índio-afro-brasileiro que é nosso país.
Hoje, enquanto
escrevo para você, estou ouvindo “Cinco Meninos”, que muito me emociona. É
madrugada e espero minha amada voltar, pois foi jogar flores no mar, na festa
de Yemanjá.
Espero que um dia
as mulheres deste país e, quiçá, de todo o mundo, possam ter sua força,
independência, sua fome de vida e seu olhar para o outro, enxergando-se como
gente que precisa ser cuidada e amada, independente de raça, sexo ou credo.
Muitas vidas se dão
em 20 anos, e parte da minha se deu ao som desta arte que por esses dias
aniversaria.
Abraços, com muita
admiração, por tudo o que és e fazes.
Fonte da imagem K7: http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-488384434-k7-daniela-mercury-o-canto-da-cidade-_JM?redirectedFromParent=MLB486936904
Fonte da imagem fusca: http://www.gazetadopovo.com.br/reveleoparana/foto.phtml?foto_id=4699&cidade_id=275
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