Ouvindo Gil, tomei coragem para escrever sobre Alê d’Ilê.
Compartilho a certeza de que o texto não será o suficiente para expressar tudo o que eu queria. Assumo o risco e, desde já, desculpo-me pelo pouco.
Diz a lenda que nosso personagem aprendeu a tocar violão por
acaso. Menino franzino gostava mesmo era de jogar futebol. Mas um dia o tombo
no campinho de terra fez seu peso cair sobre o magro braço. E o partiu.
Tristeza para ele seu não correr atrás da bola. Restou o violão no período de
recuperação. E o menino tomou gosto e cresceu na melodia e habilidade do
instrumento. Sozinho se alegrou e aprendeu a arte que veio a dividir com
tantos.
Alê d’Ilê hoje mora em Macapá- AP. Nascido em Porecatu- PR,
fez o percurso inverso d’A Violeira, de Chico. A sina deste caprichoso e não
nordestino, mais que ir pra um lugar, era fazer música e conviver com a língua francesa.
Assim subiu o país, saindo de sua terra-sul, passando brevemente pelo
centro-oeste, e finalmente se estabelecendo no norte. Mambembe, cigano...
A cara amiga perdoou-lhe
por não fazer uma visita quando veio ao sudeste. Nada de cartas ao portador. As notícias, no correio
eletrônico chegaram, com canção anexada. Uma alegria foi sabê-lo musicando pelas
bandas de lá. Outra alegria foi comprar seu CD em uma loja virtual e, ao
visitar a terra-sul, receber uma versão autografada.
Faz tempo que não vejo Alê d’Ilê. Mas o tempo em que
estivemos na mesma cidade me acompanha, quer seja no sudeste daqui ou da
África. Inclusive, uma peça de roupa que trouxe pra ele de Moçambique ainda
está preguiçosamente guardada em meu armário. Talvez à espera de um endereço
não eletrônico para ser enviada. Nem sei se o pedi. Aproveito e registro aqui a
solicitação.
O que sei é que Alê vive vizinho de Dona Guiana, a francesa
que o ajuda a treinar a língua que estudou em sua Faculdade de Letras. Francesa é caso antigo, que até já virou canção (1). Sei também que ele gravou em
seu CD uma belíssima música instrumental chamada Justina (2), para uma outra
Dona, essa muito mais importante do que a anteriormente citada.
Às vezes, na viagem diária de volta pra casa, eu o
ouço. Um dia, degustando o som me peguei chorando. Olhando pela
janela do ônibus, a lua alta brilhava... Chorava porque sabia que era a mesma que brilhava para as
gentes lá de casa, as pessoas mais amadas, “a minha gente que me espera voltar”
(3) com as notícias dessa “minha terra, mundo inteiro”.
No fim, a Estrada Companheira (4) contém um coração a mil
que amadureceu, gestou e pariu letras e melodias que soam histórias tão
pessoais e tão gerais. Contém um menino franzino e um músico; as escadarias de
uma igreja e a fronteira de um país; as águas do rio Paranapanema e as do Araguari.
Gil, no aparelho de som, hoje cantava Palco, como em um show de 1997, em Bauru. E como os tempos são outros, escrevi este texto, que agora vira post para enviar Pela Internet.
Músicas de Alê d’Ilê citadas: (1) Voulez vous Dancer, (2) Justina, (3) I’I Pororoca e (4) Estrada
Companheira
Para ouvir: Myspace
Para Comprar o CD: Visite o site da Livraria
Cultura. Clique AQUI.
Músicas de referência: A Violeira, Caro Amigo e Mambembe
(Chico Buarque)/ Palco, Corações a Mil
e Pela Internet (Gilberto Gil)
Imagens: fotografia de Carllos Bozelli e ilustracao de
Nicolas Simon
E.T: Desde aqui, mando-te “lembranças”, querido Preto, como diria
o preto meu avô. Posso também parafrasear (?) Carl Sagan e dizer que: diante da
vastidão do tempo e da imensidão do espaço, é uma honra dividir um planeta e
uma época com você.
Nenhum comentário:
Postar um comentário