domingo, 21 de junho de 2009

O Papão, a brasileira e o taxista.



Ontem peguei um taxi em Maputo, capital federal de Moçambique. No rádio tocava uma música brasileira dos anos 90. Assim, comecei um diálogo com o taxista:

_ Aqui toca muita música brasileira no rádio. É isso mesmo ou é só uma impressão minha?
_ Sim, senhora. E também 80% da programação da televisão vem do Brasil.

_ Que? Oitenta por cento não é muito? Eu não assisto muito televisão, mas parece-me que só tem um canal que é brasileiro. Nos outros canais passam novelas brasileiras, mas todo o resto não é de lá!
_ Não senhora, tem muita coisa brasileira.

_ Certo... Mas, conte-me uma coisa. No início dessa semana eu estava assistindo um programa de entrevista totalmente moçambicano e falavam do Papão Nigeriano...
_ Ah, eu vi essa entrevista hoje, na reprise...

_ Então, como é isso de Papão?
_ Ah, senhora, isso não é verdade não!
_ Não? As pessoas que falaram no programa tinham certeza que ele existia...
_ Eu acho que é um mito.

_ E como é o mito? Quero que me conte como é o Papão que as pessoas acreditam, porque assisti só um pedaço do programa de televisão e eu queria entender melhor!
_ O Papão Nigeriano se apresenta como um homem sedutor. Está sempre em carros luxuosos. Convida as mulheres para passear. A mulher moçambicana é muito vulnerável e aceita o convite. Ele as leva para discotecas, bons restaurantes... Depois da noite de passeios elas ficam tão agradecidas que fazem sexo com ele. Na hora que vai se despedir, o Papão Nigeriano dá algo como 15 mil meticais(*) para ela. Então nesse momento ela percebe que há algo de errado. Ele diz que com o dinheiro é para ela comprar fígado e uma urna funerária. O fígado é para colocar na vagina e assim alimentar os vermes depositados nela. A urna funerária é para o seu próprio enterro, porque quando o dinheiro para o fígado acabar os vermes se alimentarão de suas próprias vísceras, e ela morrerá.

_ E o senhor realmente não acredita que ele exista?
_ Olha, senhora, eu trabalho de taxista na noite já faz oito anos. Se existisse eu já tinha encontrado com ele!
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_ Então o senhor não acredita!
_ Yah, eu não acredito, mas também não duvido...

(*) Quinze mil meticais correspondem a aproximadamente 550 dólares americanos.
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9 comentários:

Clau disse...

Meo Deos!
"Yo no Credo en Brujas, pero que las hay, las hay"...rs!

A influência brasileira aí é tanta que essa história me parece uma derivação daquela do Boa Noite Cinderela...Quando você mencionou o fígado, já pensei no fígado "órgão", e a mulher deitada numa banheira cheia de gelo.

Que tal um livro com lendas urbanas Moçambicanas?
Er...Eu disse lendas? Talvez histórias verídicas...

beijos, Jana!

Janaína Leslão disse...

Hummm, um livro não dá, mas já tem muito tema proa "cunvercê" da volta! rsrs

Isadora disse...

caraca! lembra do boto? agora, algo me intrigou. pq o papão é nigeriano??? arrisca uma explicação?
Beijos saudosos!!!!!

ps: obrigada pelos comentários no blog. moh correria, só to conseguindo ler o seu agora!

Carmem Silvia disse...

Ai! que medo do papão nigeriano!
Melhor ficar em casa fazendo bolo do milho. kkkkk
Ah, pra seguir meu blog você tem que estar logada no google. Daí aparece logo em cima da página "Seguir blog". É que meu o modelo de layout é antiguinho e não tem aquele link com desenhinho... Mas eu vou descobrir como se coloca!
Beijo!

Unknown disse...

Gente, isso não tem nada a ver com boto ou o boa noite cinderela, nem é influência brasileira. As lendas moçambicanas são moçambicanas mesmo. Tampouco é algo relacionado ao HIV (o contrário é mais provável). Dá uma lida no meu artigo que saiu na última VIBRANT. Lá tem uma discussão sobre a categoria de inimigo estrangeiro e o teor canibal associado a ele. Um texto muito legal que fala de um fenômeno semelhante, o chupa-sangue na Zambézia (nada a ver com o nosso chupa-cabra), é um da Nina Bowen que está num dos números da Estudos Moçambicanos. É excelente!
Saudades d'ocê, Jana!!!
Beijão

Janaína Leslão disse...

O bão de ter essis amigus dotô é qui sempri elis tem uns parpiti mais melhó pra nóis, né Henriqui? Sardade tumém... mais na verdadi to isperano ocê pra ocê mi levá passiá nos lugar que ocê cunhece dessas terra daqui, porquê ainda nun fui! Vem logu!!
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No mais, essa coisa do "inimigo estrangeiro" coloquei porque pra mim é uma vivência tão certa! O mal sempre está fora e vem nos atormentar! Nas cidades pequenas (como a de onde vim) sempre tem altas brigas com os rapazes da "outra cidade" que vem namorar as moças "desta cidade"! Aí também faço uma leitura de gênero e da "propriedade" em relação as moças...
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e, como diz no título deste blog, são os meus devaneios! rsrs

Unknown disse...

eita, agora me senti o babacão dando lição, rs... juro que a intenção não era essa, nem fazer auto-propaganda, viu? é que tô tão metido de cabeça nessa discussão (escrevendo a tese) que só penso nisso... anyway, a história é ótima pra pensar o que tô escrevendo (repete a lógica de vários outros "inimigos" estrangeiros e predadores que historicamente povoam os rumores aí). a diferença entre o "estrangeiro" daí e os daqui é que aí o "estrangeiro" é aquele que invadiu, guerreou e colonizou (antes mesmo dos tugas chegarem). em atibaia também rola esse lance dos "de fora" que vc falou, mas as falas por aqui não remetem à crueldade predatória que as falas em moçamba explicitam tanto. essa diferença é fundamental.
agora, pra pensar: uma doença fatal e sem cura que vem "de fora" desencadearia que tipo de rumor por aí? você sabe do que eu tô falando, né?
beijos nessa mulherada maravilhosa da tua casa!
e até breve (se der tudo certo...)

Janaína Leslão disse...

ah, sobre os nigerianos: ainda perguntei ao taxista o porquê de ser justamente nigeriano o papão... e ele disse coisas que não me atrevi escrever no blog... rsrs coisas bem ruins... Não coloquei porque eu não saberia escrever de forma que não parecesse reprodução de um preconceito... rsrs
ADOREI A DISCUSSÃO QUE ESSA POSTAGEM DEU! hehe

Unknown disse...

ahhh... agora vai ter que contar, rs...
aproveitando o ensejo, eu me orkuticidei (traduzindo: saí do orkut). cansei daquilo... se voltar um dia, eu aviso, tá? mas meu e-mail continua o mesmo.

CONTA! CONTA!

beijos mil