sexta-feira, 25 de março de 2011

O arco-íris ainda sangra


Abaixo, relato de mais uma agressão nas imediações da Paulista. Aconteceu há 02 dias, em 23/03/2011.
Não vou entrar no mérito se a violência está maior ou as pessoas estão denunciando mais. A questão principal é que as pessoas estão na rua vivendo a vida e do nada são agredidas por outras pessoas que, sem quê nem porquê, se incomodam com sua existência.

Sim, existência porque os LGBT não estão ditando nenhuma regra de que X ou Y tenha que ser um deles. Ninguém é obrigado a beijar a boca de ninguém, ok?

Agora, se você está passando na rua, vê duas mulheres ou dois homens de mãos dadas e isso "mexe contigo" de alguma forma, aviso: não é batendo, matando, xingando ninguém que esse seu incômodo vai passar.
Viva e deixe viver. É pedir muito?


Nota do setorial GLBT da CSP-Conlutas sobre a agressão de um grupo de skinheads contra nosso camarada Guilherme

Na madrugada desta terça para quarta-feira, dia 23, um grupo de quatro Skinheads agrediu covardemente nosso companheiro Guilherme, em mais um atentado homofóbico, na esquina da Rua Peixoto Gomide com a Augusta, local tradicionalmente frequentado por gays e lésbicas. Uma viatura da polícia que passava no local parou e deteve os agressores. O companheiro, sangrando, foi à 4º delegacia de polícia registrar o boletim de ocorrência contra o ataque homofóbico. Porém, ao tocar na palavra homofobia, o tom da policial que o auxiliara mudou e esta tentou dissuadi-lo de prestar queixa. Dentro da delegacia de polícia os agressores fizeram diversas ameaças ao companheiro, dizendo que tinham marcado seu rosto e iram atrás dele para arrebentá-lo. Após resistências da polícia, o BO foi registrado. Contudo, na hora de ir embora a polícia se negou a levar o companheiro até sua casa e o deixou sozinho para ser pego do outro lado da rua pelos neofascistas que haviam acabado de ameaçá-lo dentro da delegacia. Os agressores são Willyan Hoffmann da Silva, estudante; Vinícius Siqueli de Paula, operador de telemarketing; Daniel Moura Fragozo, estudante; Milton Luiz Santo André, estudante.

É preciso lembrar que este valoroso companheiro, além de forte atuante do movimento estudantil, é um militante do movimento GLBT e esteve na organização da Marcha Contra a Homofobia, realizada na Avenida Paulista, no dia 19 de fevereiro. Esta mesma marcha exigia a aprovação do PLC-122, projeto de lei que criminaliza a homofobia. Esta agressão ao nosso camarada é um atentado contra o próprio movimento e mais uma demonstração da urgência em se aprovar o PLC-122.

Nós do setorial GLBT da CSP-Conlutas exigimos das autoridades públicas a punição dos agressores. Denunciamos com força o descaso da polícia no tratamento com o companheiro, numa clara atitude de incentivo à impunidade de grupos de ódio. Exigimos que medidas sejam tomadas contra a policial que se negou a escoltar o companheiro até sua casa e o deixou à mercê dos seus agressores. Denunciamos cumplicidade da polícia que tolerou ameaças contra a vida do companheiro feitas dentro da própria delegacia. Exigimos que a corregedoria de polícia investigue o caso e tome as medidas necessárias que, para nós, envolvem sim ou sim a exoneração dos policiais cúmplices.

Nosso companheiro está sob ameaça! Alertamos as autoridades públicas, aos movimentos sociais e a toda a população que, se por ventura, qualquer coisa acontecer contra nosso camarada, a responsabilidade recairá totalmente sobre os ombros do poder público.

Chamamos a todos os ativistas do movimento que participem da entrega do laudo do IML na segunda-feira, às 14h na 4º Delegacia de Polícia, na Rua Marques de Paranaguá, 246.

Por fim, queremos dizer que o Estado não reconhece nossos direitos, a segurança pública falhou conosco e, portanto, só nos resta nos apoiarmos em nós mesmos, nos movimentos sociais combativos e na comunidade GLBT. Chamamos a todos os Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais a adotarem uma postura vigilante, a denunciarem os casos de agressão e a intercederem em defesa dos nossos. O direito de autodefesa contra os ataques homofóbicos é legítimo! Devemos agir como grupo, como movimento social! Chega de impunidade! Chega de silêncio!


Fonte da imagem: Capa da revista Forum.

quinta-feira, 3 de março de 2011

SedeDeQuê? e a Lua Nova

Nessa época pré carnaval, o que pouca gente lembra é que o tal feriado cairá justamente no "Dia de Luta das Mulheres", celebrado em 8 de março.

Não por isso, mas coincidentemente, o SedeDeQuê? lança sua nova fase.

Esse blog amigo que começou com um projeto onde usava arte para o enfrentamento da violência contra as mulheres, agora está com a proposta de usar recursos semelhantes pra falar sobre a legalização do aborto.

Visitanto a página lembrei da música "A Lua"...

A fase do blog é nova. Assim com a lua o é tantas e tantas vezes. Nova, minguante, cheia, meia...

Desejo que a renovação das ações em prol dos direitos de mulheres e homens se multiplique e se renove, como as fases da lua.






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A LUA (Renato Rocha)

A Lua
Quando ela roda
É Nova!
Crescente ou Meia
A Lua!
É Cheia!
E quando ela roda
Minguante e Meia
Depois é Lua novamente
Diiiizz!...
Quando ela roda
É Nova!
Crescente ou Meia
A Lua!
É Cheia!
E quando ela roda
Minguante e Meia
Depois é Lua-Nova...
Mente quem diz
Que a Lua é velha...(2x)
Mente quem diz!

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Cenas de Racisno no Brasil - IV

Eu sei, seu sei, o blog está pa-ra-do. Aquela coisa de sempre: o tal tempo difícil de administrar. Muito trabalho somado à um mínimo de lazer, resulta em poucos momentos pra cuidar da "coluna do meio", que é o caso deste espaço.

Sendo assim, antes que o mês termine sem nenhuma linha, venho contar mais uma cena racista. Afinal, há tanto material vivido com esse tema, que (infelizmente) fica fácil escrever sobre.


Cenário: Metrô de São Paulo. Linha Azul. Jabaquara-Tucurivi.

Estação Jabaquara
Na primeira estação, o vagão vazio, acomoda todos sentados.

Estação Conceição
Muitas pessoas entram. Alguns bancos preferenciais estão vazios. Portas são fechadas. Os bancos preferenciais são ocupados após todos os que teriam direito a eles se acomodarem.

Estação São Judas
Saem quatro. Entram seis. Segue.

Estação Saúde
Cena monótona. Pouca variação da anterior.

Estação Praça da Árvore.
Uma velha senhora entra no vagão. Imediatamente à sua frente está uma mulher, sentada no banco azul, que não preenche os requisitos do banco preferencial.
De pé, a senhora olha para a mulher sentada. Verifica a cor do banco. Vira-se e procura outros bancos preferenciais potencialmente vazios.
Sem sucesso em sua busca, anda sem dificuldades até o outro lado do vagão. Lá cutuca uma outra mulher que, assim como a primeira, estava inadequadamente sentada no banco preferencial.
A mulher cutucada, que antes dormia, imediatamente se levanta e cede o lugar. A senhora senta. Não agradece.

Estação Santa Cruz
...

Estação Vila Mariana
...

Primavera
...

Verão
...
A indignação não passa.
A mulher desperta logo à frente seguiu sentada.
A mulher que dormia mais distante foi cutucada.
A primeira era branca.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Cenas de Racisno no Brasil - III


Semana passada, viajei às pressas para o Paraná porque uma tia-avó faleceu.
Antes de querer ir propriamente ao enterro (afinal ela já estava morta e não acredito que ir ou não faria alguma diferença para ela naquele estado), fui mais para estar com minha família de origem.

Ainda preciso explicar que: 1) a cidade pra onde fui chama-se Ourizona, tem 3 mil habitantes, é uma região rural e fica há 37km de Maringá-PR; 2) a tia falecida morou lá por uns 50 anos mas nos últimos tempos estava em outra cidade, para receber cuidados de parentes mais próximos; 3) fazia alguns anos que ninguém de minha família visitava aquela cidadezinha e os amigos que ali moram, e; 4) olhando para meus parentes vejo alguns negros, uns tantos pardos (mulatos? mistos? afrodescendentes?) e muitos outros brancos.

Vamos ao acontecido: 
Terminado o cortejo, todos cansados, fomos nos enfiando nos carros, a fim de chegar a um lugar pra descansar, tomar banho, comer, relaxar.
Acontece que sentei no banco de trás de um dos automóveis onde também estava uma cadeirinha de bebê, com a pequenina dentro. Conforme eu colocava meu cinto de segurança a pequenina ao meu lado era ajeitada na cadeirinha por sua mãe. Do lado de fora havia uma senhora, amiga da tia falecida, que fiscalizava a arrumação da criança e insistia em dizer que o lugar da cadeirinha era no meio do banco traseiro, porque da maneira que estava não ficaria confortável para todos. E a mãe da bebê explicava, pacientemente, que a cadeira estava no local correto, ali mesmo, na lateral.
Então quando o pai da criança entrou no carro e eu fechei a porta do meu lado, a senhora, vendo que estávamos realmente de partida, rapidamente perguntou:
_ Mas se a cadeira ficar aí no lado, onde vai sentar a mãe do bebê?
_ A mãe sou eu! – respondeu a mulher, que ainda estava do lado de fora do carro. A mesma que desde o início cuidava da criança, ajeitando-a, e respondendo as perguntas insistentes da senhora.
A surpresa da senhora foi tanta que emudeceu. Todas as portas fechadas. O carro foi ligado e o silêncio foi quebrado pela conclusão em voz de mulher, som para os três adultos presentes e a pequena que dormia:
_ Ela ficou preocupada porque não havia lugar para a mãe sentar porque só conseguiu enxergar uma babá!
...

Nesses momentos não há lugar para miscigenações, mestiçagens ou coisas que as valham. Nesses momentos as pessoas são colocadas como peões em seus devidos lugares. Homem branco, pai. Neném branca, filha. Mulher não branca, babá!

Cenas assim só nos revelam que não existem mulat@s, mist@s, pard@s, afrodescentendes. Existem negr@s! E não é o sutil tom de pele que nos revela esse "fato". É a maneira tosca como uma pessoa é (des)tratada, (des)respeitada, (des)acreditada e (des)prezada.

Às pessoas, de todos os tons e cores, meu respeito e admiração por (sobre)viverem neste país “não racista” que é o Brasil.
Pr@s querid@s bem próximos, de melanina mais ousada: vocês são o que de melhor poderiam ter acontecido à nossa família.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Benke

Pra começar 2011, compartilho uma música da qual me lembrei hoje.
Seu nome é "Benke", composição de Milton Nascimento e Márcio Borges.

Alguém sabe o ano da canção? Tentei achar (sem muito empenho, confesso) e não consegui.
Só sei que quando eu era adolescente, lá em Porecatu-PR, a música entrou pra trilha sonora de uma novela.
Era daquelas que só tocam de vez em quando e ninguém dá muita atenção...
Mas a tal música me encantou de um jeito que eu, atenta ouvinte da Rádio Brotense (1 210 KHz), ligava todos os dias pra fazer meu pedido.

Enfim, eu não sabia o que era Benke até agora, e descobri que é o nome de um curumim do povo Kampa e a canção foi dedicada a todos os curumins de todas as raças/etnias do mundo.

Vai ver que foi @ curumim que vive em mim que se encantou...




BENKE (Milton Nascimento e Márcio Borges)

Beija-flor me chamou: olha
Lua branca chegou na hora
O Beija-Mar me deu prova:
Uma estrela bem nova
Na luminária da mata
Força que vem e renova

Beija-Flor de amor me leva
Como o vento levou a folha

Minha Mamãe soberana
Minha Floresta de jóia
Tu que dás brilho na sombra
Brilhas também lá na praia

Beija-Flor me mandou embora
Trabalhar e abrir os olhos

Estrela d’Água me molha
Tudo que ama e chora
Some na curva do rio
Tudo é dentro e fora
Minha Floresta de jóia

Tem a água
tem a água
tem aquela imensidão
tem sombra da Floresta
tem a luz do coração

Bem-querer

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Família é prato difícil de preparar

para minha família

Dia 24 de dezembro e a melhor coisa do fim de ano é estar com quem a gente gosta. A lista é grande e nem sempre dá pra por todo mundo junto.

A família, antes pequena, vai crescendo, juntando-se com outras famílias e a reunião total é uma verdadeira façanha.


Recebi esse texto de uma amiga querida, a mesma que me instigou a criar esse blog há quase dois anos atrás. Quem conhecer o original, perdoe-me, pois o email estava desconfigurado e os parágrafos foram dispostos a minha maneira.

O Arroz de Palma (Francisco Azevedo)

Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo.

Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um.

Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio.

Mas a vida, (azeitona verde no palito), sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida.

Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.

E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho?
Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero.

Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.

Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.

Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido.

Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.

O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe "Família à Oswaldo Aranha", "Família à Rossini", Família à "Belle Meunière" ou "Família ao Molho Pardo", em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria.

Família é afinidade, é "à Moda da Casa". E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.

Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seriam assim um tipo de "Família Diet", que você suporta só para manter a linha.

Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.

Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia-a -dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança, principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu.

O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer.


Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo.

Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Estatuto do Nascituro: Sou contra!

Primeiramente gostaria de deixar registrado que não sou "a favor do aborto", e desconheço alguém que seja. Sou a favor da "legalização do aborto", para que cada mulher, frente uma gravidez indesejada, possa refletir segundo suas crenças e tomar a melhor decisão.

Ninguém deve ser obrigado a viver sob crenças que não são suas. Digo "crença" porque cada um e cada uma faz sua melhor escolha, ainda que aquilo lhe custe bastante. "Quando começa a vida?" é objeto de debate, sem consenso entre cientistas e também entre religiosos, e que muda de tempos em tempos. Do outro lado não há dúvidas. Assim: Sou a favor da vida da mulher!

Como diz a palavra de ordem: "EDUCAÇÃO SEXUAL PARA DECIDIR. CONTRACEPTIVOS PARA NÃO ABORTAR. LEGALIZAÇÃO DO ABORTO PARA NÃO MORRER"
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As Jornadas Brasileiras pelo Direito ao Aborto Legal e Seguro lançam uma petição virtual contra ameaças aos direitos das mulheres, em especial, contra o Estatuto do Nascituro. Assine: http://jornadaspeloabortolegal.fw2.com.br

O projeto de lei 478/2007, visa estabelecer os direitos dos embriões (chamados, nascituros). Esse projeto, conhecido por Estatuto do Nascituro, baseia-se na crença que a vida tem início desde a concepção, ou seja, mesmo antes do ovo ser implantado no útero.

Esse projeto de lei viola claramente os Direitos Humanos e reprodutivos das mulheres, pois, ao estender as hipóteses de ilegalidade do aborto, ignora a relação de causa e efeito entre a ilegalidade do aborto, os altos índices de abortos inseguros, e as altas taxas de morbidade e mortalidade materna no Brasil, e põe em risco a saúde física e mental, e mesmo a vida, das mulheres.

Por isso, convidamos a todas e todos a participar, assinando e divulgando a Campanha:

“10 Razões pelas quais o “ESTATUTO DO NASCITURO”, Projeto de Lei No. 478/2007, é prejudicial à saúde e aos Direitos Humanos das Mulheres”

Por que:

1. Amplia a criminalização do abortamento para as situações que hoje são permitidas por lei. Dificulta o acesso das mulheres aoaborto legal, já bastante limitado no Brasil, e pode ser ainda mais restringido caso este projeto de lei seja aprovado. Até as mulheres que tem o direito ao acesso ao aborto previsto em lei seriam criminalizadas, como nos casos de risco de vida e nos casos de estupro. O projeto obriga vítimas de estupro a suportar a gravidez resultante do crime, agravando sobremaneira seu quadro de estresse pós-traumático, o que põe em risco sua saúde mental. A situação é especialmente preocupante considerando o grande número de crianças e pré-adolescentes grávidas em decorrência de abuso sexual, grande maioria destas, é vítima de abusos sexuais durante anos por parte de pais, padrastos ou outros familiares. O projeto obrigaria vítimas de pedofilia a suportar gestações que, além de traumáticas, são de alto risco, pois seus corpos não estão completamente formados. É uma violação do direito constitucional de não sofrer tratamento cruel, desumano ou degradante.

2. Viola o direito à igualdade entre homens e mulheres. De acordo com o projeto de lei, as mulheres grávidas passam a ser consideradas como criminosas em potencial. Se uma mulher sofrer um abortamento espontâneo – 25% das gestantes podem sofrer abortamento espontâneo no início da gravidez – em uma situação extrema, pode ser alvo de uma investigação policial ou ser processada por ter violado o direito à vida do embrião.

3. Em especial, discrimina as mulheres em situação de maior vulnerabilidade. Mulheres de baixa renda, negras, com pouca escolaridade, jovens e com limitado acesso aos serviços de planejamento familiar seriam as mais afetadas. São essas mulheres que correm o maior risco de morrer ou sofrer complicações devido a abortos inseguros.

4. Aumenta as taxas de abortos inseguros. O aborto inseguro é uma questão de Direitos Humanos das mulheres e questão de saúde pública no Brasil, onde anualmente quase duzentas mulheres morrem e milhares sofrem sequelas devido a práticas clandestinas e não seguras. Está, portanto, na contramão da tendência de revisão ou ampliação das leis restritivas em relação ao aborto no mundo, como ocorreu recentemente em Portugal, Colômbia, Uruguai, México e Espanha. As evidências têm demonstrado que a simples proibição do aborto em nada tem contribuído para diminuir sua prática, mas contribui para o risco de aborto inseguro e clandestino. Mulheres vítimas de estupro também recorreriam a abortos inseguros, o que, além de ameaçar sua saúde e sua vida, poderiam levá-las a ser processadas criminalmente, gerando grande estresse emocional a uma mulher já tremendamente traumatizada.

5. Viola os tratados internacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil é signatário, que não estabelecem o direito à vida para fetos e embriões. O projeto de lei confere proteção ao direito à vida do embrião em detrimento às realidades concretas e materiais vividas e enfrentadas por mulheres que possuem autonomia e são titulares de direitos constitucionais à saúde, à liberdade, à igualdade e à não discriminação. Viola os direitos fundamentais e invioláveis á vida e à saúde das mulheres ao dar ''prioridade absoluta'' e ''proteção integral'' ao embrião, proíbe qualquer ato que ameace a continuidade da gravidez, mesmo que tal ato seja necessário para preservar a saúde ou a vida da mulher.

6. Os Direitos Constitucionais garantidos para as mulheres podem estar ameaçados, se for aprovado. Viola o princípio constitucional do Estado Laico. Os valores morais das religiões vigentes, além de diversos, não devem influir na vida sexual e reprodutiva privada das mulheres. Não existe consenso científico sobre quando começa a vida. Elaborar lei que diz que a vida começa na concepção é impor tal idéia, que tem sua origem em segmentos conservadores dogmáticos, sobre toda a população brasileira, violando a separação entre igreja e estado, e a liberdade religiosa dos que seguem outras doutrinas.

7. Implica em mais custos para o Estado. No Brasil, a partir de dados do SUS, estima-se um gasto anual de cerca de 29 milhões de reais, por conta da média de 238 mil curetagens decorrentes de complicações do aborto inseguro por ano. Se o projeto de lei for aprovado os custos aumentarão ainda mais, pois obriga o pagamento de pensão para as mulheres que engravidam por estupro. Além disso, os abortos inseguros aumentariam, pois as vítimas de estupro recorreriam a eles.

8. O projeto ainda prevê uma bolsa para as mulheres vítimas de estupro criarem seus filhos, porém esta bolsa só será viável se a mulher denunciar o estupro. É, portanto, ineficiente, pois se sabe que muitas mulheres não o denunciam por medo, vergonha, ou por conhecer o agressor. Mesmo quando houver a adoção, as mulheres ainda levarão adiante uma gravidez indesejada, sem que possam exercer a autonomia reprodutiva criando uma situação análoga à da tortura. Haveria aumento no número de recém-nascidos abandonados por mulheres sem condições emocionais de criá-los. O pagamento de pensão pelo estuprador à criança, fruto de seu crime, é perigoso, pois cria mecanismos que poderiam possibilitar que o criminoso rastreasse o paradeiro de sua vítima e de seu filho.

9. Cria barreiras para o acesso à contracepção. O projeto de lei pode ser um obstáculo para o acesso a métodos contraceptivos, à anticoncepção de emergência, sob o argumento da proteção ao direito à vida do ovo, embrião ou feto.

10. O projeto de lei proibiria pesquisas com material embrionário. Sabe-se que o uso de células-tronco embrionárias em pesquisas foi autorizado por decisão histórica do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2008. O STF decidiu que o direito à terapia com células-tronco integra o direito à saúde. O projeto, portanto, é inconstitucional pois restringe tal direito, que é inviolável. Esse projeto de lei está no momento para ser analisado pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara Federal de Deputados, Brasília.

Junte-se a essa campanha para que os parlamentares rejeitem esse projeto de lei e protejam os direitos reprodutivos das mulheres no Brasil!
EU PEÇO AOS PARLAMENTARES DO CONGRESSO NACIONAL PARA REJEITAREM O ESTATUTO DO NASCITURO ( PROJETO DE LEI 478/2007)

Ao assinar essa petição você estará enviando; para 30 deputados, 10 razões pelas quais o ESTATUTO DO NASCITUTO é prejudicial para a saúde e para os direitos humanos das mulheres.